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O MAIOR DERBY DA MINHA VIDA NA NOITE DE TODOS OS BLUES

5 / novembro / 2018

por Marcelo Mendez


Não entendi porque o Pai não quis ir para o Morumbi na primeira partida da semifinais do Campeonato Paulista de 1986.

Time voando, Corinthians goleado por nós. Por que não fomos? De rádio colado no ouvido, pensava nisso. Sem perceber, várias horas haviam se passado. Começa ali o jogo e a maior roubalheira da história do Derby.

Teve de tudo!

Gol legítimo de Vagner Bacharel anulado, pênaltis não marcados e um destes com o zagueiro Edvaldo do Corinthians espalmando a bola para fora.

Um absurdo. Terminado a coisa, meu Pai bateu na porta e munido de um desejo de justiça, decretou:

– Vamos no jogo, quarta-feira!

Fomos. E ali chega o dia de uma das maiores alegrias que o Palmeiras me deu.

Era o dia de fazer justiça!

Justiça, Justiça, Justiça…

No Morumbi lotado, o Palmeiras martelava e amassava o Corinthians.

Carlos, o goleiro, pegava bolas e mais bolas em defesas espetaculares e as coisas não iam bem. Na antiga numerada inferior, onde ficávamos todos misturados, as esperanças iam ruindo até que chegamos ao ápice da coisa, aos 42 minutos do segundo tempo. Meu pai, puto com tudo, virou e me falou.

– Chega, vamos embora!

– O que? Tá doido, Pai?? Ainda não acabou, não!!

– Vai acontecer o que vem acontecendo por esses 10 anos. Vamos…

Nisso, um corintiano ao lado que acompanhava a cena se meteu na história:

– Menino… Ouve seu Pai, vai ficar pra passar mais raiva? Vai assistir nossa festa?

– Marcelo… vamos!

– Espera, Pai…

– Cê vai ficar aí? Fica, eu tô indo!

– Então vai, Pai! Vá pra porra! O senhor é palmeirense porra nenhuma! Vai embora, eu me viro!

Após a gente quebrar o pau, o Velho virou as costas e foi indo embora. Eu tinha 16 anos de idade em 1986. Na ocasião, num tinha uma moeda no bolso e quando meu pai começou a ir embora, eu nem pensei em nada. O corintiano do meu lado se meteu de novo:

– Garoto, melhor você ir embora, hein? Ah lá… faz como seu Pai que aqui o Coringão já levou…


Nesse momento, Jorginho se encaminhou para bater uma falta. Bola na área, Vagner Bacharel cabeceia, o goleiro Carlos espalma e a bola acha a barriga, as pernas e tudo de Mirandinha, que a empurra como dá para o fundo das redes.

GOOOOOOOOOOOLLLLLL!!!!!

Eu já gritei vários gols na vida. Mas eu duvido que algum deles tenha tido a força que teve aquele berro na cara do corintiano desenxabido ali na minha frente. Eu o peguei pela camisa e gritava… “Golllllllll”. Meu pai que estava indo embora voltou e quando vi estava meio que me abraçando, meio que me tirando em cima do corintiano.

– Ainda falta a prorrogação, o Timão vai virar…

– Vai virar é o caralho! Vai embora você, arrombado!

E nesse clima “hospitaleiro”, fomos à prorrogação. O regulamento previa que após os resultados iguais, com a melhor campanha, o Palmeiras precisaria empatar com o Corinthians na prorrogação para a final. A peleja começou:

E no primeiro ataque do Palmeiras, Mirandinha pega uma bola, entorta Edivaldo e bate pra rede.

“GOOOOOOOOOOOOLLLLL”

Nesse momento, o corintiano foi levantando pra ir embora e eu corri atrás dele falando um milhão de impropérios. Meu pai correu atrás de mim e disse pra esquecer o cara e fazer a festa. Eu fiz.

De quebra, teve gol olímpico de Éder e uma festança de 3×0.

Depois daquela noite, veio alguma dor. Essa noite vai servir de acalanto…

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