por Claudio Lovato Filho
Volta e meia, quando penso em como devemos nos comportar nos momentos bons e nos momentos nem tão bons, penso em Tarciso.
De tempos em tempos – com frequência cada vez maior conforme a idade avança – reflito sobre o quanto é importante acreditar no dia seguinte, no fato que está por vir, e manter a confiança. Durante essas reflexões, é comum que me venham à mente lembranças de Tarciso.
Que legado de persistência, honradez e humildade.
A persistência, a honradez e a humildade que só os verdadeiros vencedores têm.
Não apenas isso, claro, porque também jamais faltaram a ele atributos como talento, coragem e senso de companheirismo. As qualidades não eram poucas.
Em 2018, alguns dias após a morte dele, fui chamado a falar sobre o Flecha Negra a um grupo de gremistas aqui de Brasília. Foi de surpresa, sem aviso prévio, durante um almoço. Quem me conhece sabe que prefiro escrever a falar, mas não pude recusar aquele pedido, não houve como. Não tanto pela insistência dos parceiros ou pela ênfase da convocação, mas simplesmente porque precisávamos falar de Tarciso, chorar sua partida, celebrar sua legenda e sua lenda. Então fui.
Recordei acontecimentos como os jogos de que participei na Escolinha do Grêmio, em 1978, aos meus 13 anos, sob a assistência de Ancheta, Tadeu Ricci, Iúra, André, Éder, Tarciso e os outros heróis que formaram um dos elencos tricolores mais inesquecíveis de toda a nossa longa história iniciada em 1903.
Naquele almoço com companheiros tricolores aqui do Distrito Federal, eu disse, lá pelas tantas, que Tarciso havia roído o osso, mas também havia comido o filé. Um chavão surrado, eu sei, mas que me ajudou a expressar o que penso e o que sinto quando falo em José Tarciso de Souza.
Ele mostrou suas credenciais aos torcedores gaúchos em novembro de 1972, quando, jogando por seu clube de então, o América do Rio, deu espetáculo numa partida contra o Internacional, no Beira-Rio. O jovem centroavante de 21anos fez gol em jogada que incluiu dribles em Figueroa e no goleiro Schneider. (Talvez disso tenha decorrido, pelo menos em parte, o gosto do zagueiro chileno em desferir cotoveladas no rosto do atacante, coisa vista muitas vezes nos anos seguintes, mas que jamais atingiu o intento de amedrontar o guerreiro nascido na pequena São Geraldo, em Minas Gerais.)
Tarciso chegou a Porto Alegre dois meses depois, em janeiro de 1973, vindo do América para assumir a camisa 9 tricolor, numa negociação que incluiu a ida de Ivo e Flecha para o clube carioca. Tarciso viu nosso arquirrival ser campeão estadual quatro vezes seguidas – sequência que envolveu questões nebulosas, como a absurda regra do “goal average”, que nos tirou o título de 1975, ano do Gre-Nal dos três gols do Zequinha, mas isso é outra história.
Em 1977, sob a batuta de Telê Santana – que o transformou definitivamente em ponta-direita, na sequência de movimentos feitos por Milton Kuelle e Ênio Andrade – e formando um ataque lendário com André Catimba e Éder Aleixo, Tarciso foi um dos maiores protagonistas da conquista do campeonato gaúcho daquele ano, título que, como tantas vezes enfatizou nosso eterno presidente Hélio Dourado, abiu as portas para as grandes conquistas dos anos seguintes: o Campeonato Brasileiro de 1981, a Libertadores e o Mundial Interclubes de 1983 e tudo o que veio depois.
Tarciso estava lá: no Morumbi, superando o São Paulo e levantando a taça do nosso primeiro Brasileirão; no amado e saudoso Olímpico, derrotando o Penãrol, num feito do tamanho da América; e no Estádio Olímpico de Tóquio, jogando na ponta-esquerda, na épica vitória contra o Hamburgo, confirmando que a Terra é azul. E nunca, nem a sério nem de brincadeira, se ouviu ou viu, partidos dele, um gesto ou uma palavra que indicassem perda da simplicidade e da modéstia.
Neste 2023, caro amigo (acho que posso te chamar assim, não é?), quando se completam 50 anos da tua estreia pelo Grêmio, eu e toda a torcida azul-preta-e-branca queremos, mais uma vez, e de forma especial, celebrar teu nome, tua história e tua herança, e reiterar o orgulho de ter a ti como o jogador que mais vezes vestiu a camisa do nosso clube amado, em 723 partidas, e como um dos nossos principais artilheiros, o segundo maior, atrás apenas de Alcindo, com os teus 228 gols.
Jamais serás esquecido, jamais. Especialmente (digo isto por mim, mas sei que não apenas por mim) quando pensarmos em qualidades como honradez, persistência, humildade, talento, coragem e generosidade – só para citar algumas das que possuías de sobra.
Aqui estamos, amigo. A tua torcida. Ela te saudará para sempre.
Bela história. Sabes que o meu ataque preferido é Tarcíso, André e Éder. Tarcíso é um fora de série. Hoje não tem um jogador como ele.
Tarcíso é referência. Um brigador. Na corrida , ninguém pegava ele.
Também foi um político de qualidade.
Forte abraço, mano velho.
Quantas vezes eu e tu tivemos o prazer, a alegria e o privilégio de ver Tarciso no gramado do nossso saudoso Olímpico! Em diversas épocas, incluindo o mítico 1977, em que ele formou com André e Éder um ataque que jamais será esquecido. Somos caras de sorte. Abraço, irmão.