por Elso Venâncio, o repórter Elso
A magia da camisa 10 surgiu após o Rei Pelé usá-la e imortalizá-la. Outro gênio da bola, Johan Cruijff atuava com a 14 às costas, mas por superstição, afinal, marcara na infância um gol valendo-se de um uniforme que tinha esse número. Contudo, reverenciava o mais famoso número da história do futebol. Um número que mais se parece nota de boletim escolar.
Certa vez, Cruijff chamou Romário para conversar antes de um treino do Barcelona:
“Você vai usar a 10.”
“Não! Eu sou 11”, retrucou o baixinho marrento.
“Romário, escute uma coisa… nos times que eu comando o melhor usa a 10” – determinou o holandês, considerado por muitos o melhor jogador europeu do Século XX.
O pedido de Gabigol para vestir a 10 de Zico não chegou a ser novidade, já que no Santos o mesmo usou, após muita insistência, a sagrada 10 de Pelé. Porém, Gabriel Barbosa não marca desde agosto, ou seja, há 12 jogos, e quando entra nem chuta a gol, o que já soma dez – esse número mesmo! – dez partidas sem sequer finalizar. Além disso, acumula expulsões. Até pênaltis, o que batia como poucos, ele vem desperdiçando.
O revolucionário locutor esportivo Waldir Amaral – ‘indivíduo competente’ – dizia, após gritar gol:
“Camisa 9, a camisa que tem cheiro de gol.”
Gabigol é o ídolo máximo da nova geração. Seu nome está gravado para o todo e sempre na história do Flamengo, graças, principalmente, aos três gols decisivos marcados em duas Copas Libertadores. No entanto, vem enfrentando um adversário perigoso – por sinal, o maior inimigo do ser humano. O Ego!
Com o ego inflado, Gabi adora se exibir, não admite erros e multiplica em sua cabeça o megassucesso alcançado. Com sua necessidade cada vez maior de ser admirado e ter que se destacar diante dos demais companheiros, abandonou a 9, dignificada por Nunes, outro ídolo eterno da Gávea.
Nunes, o ‘Artilheiro das Grandes Decisões’, conquistou três Campeonatos Brasileiros, uma Libertadores e o Mundial de Clubes. Já Gabi nega estar acima do peso e, com a camisa de Nunes, marcou os históricos gols relâmpagos diante do River Plate na decisão da Libertadores de 2019, em Lima, capital do Peru.
O europeu, sabemos, só libera um jogador após usá-lo e abusá-lo até chegar ao ‘bagaço da laranja’. Da mesma forma, o profissional só aceita voltar, ou fica, quando perde mercado lá fora. Tite resistiu até quando pôde ao ‘ano sabático’ que pretendia tirar, enquanto aguardava propostas. Gabigol fez no Flamengo muito mais do que dele se esperava. É o maior goleador brasileiro na Libertadores e o quinto que mais marcou na competição.
Com propriedade, o sérvio Dejan Petkovic diz que a 10 rubro-negra é pesada:
“Não é fácil” – completa.
A fase ruim de Gabigol vai ser superada, acreditamos, mas isso só depende dele. O jogador tem que priorizar sua vida de atleta, de profissional, para continuar como ídolo e seguir sendo decisivo em todo e qualquer jogo.
Comparar esse Gabriel com Zico é um sacrilégio. Coloca-lo num panteão de glórias por três gols, é enganar até o torcedor do Flamengo. E as centenas de gols decisivos de Zico? Gabriel é um fanfarrão, debochado e irritantemente desleal. Num Fla x Flu, pisou na canela do jogador Ganso caído no gramado, bem na cara do bandeirinha que fingiu não ver. Gosta de dar tocos, chutes no adversário fora do lance e longe do juiz. Zico nunca fez isso e era respeitoso com o adversário. Essa imagem de ele e de Zico segurando troféus, é pura arrogância. Ele se esquece que além da Libertadores, Zico é campeão mundial de clubes, coisa que Gabriel nunca foi.