por Victor Kingma
Na minha infância eu gostava muito de jogar botão. Entretanto, jamais utilizei os tradicionais times comprados nas lojas de brinquedos.
Gostava eu mesmo de confeccioná-los usando casca de coco ou conseguindo tampas descartadas de relógios Lanco, na relojoaria do bairro, em Juiz de Fora, onde eu morava na época.
Eu era um bom praticante, sem nunca ter conseguido ser um craque no jogo, como tantos amigos do bairro.
Certa vez, recém casado, lá pelos anos 70, fui desafiado por um primo da minha esposa, então com quatorze anos, para uma partida.
Missão ingrata, pois o moleque jogava demais! Tinha sido inclusive o campeão da modalidade no seu colégio. Eu, flamenguista histórico, e ele tricolor fanático. Claro que nossos botões representavam esses times.
Iniciada a partida logo vi que a disputa era indigesta mesmo. Logo o Fluminense fez 1 x 0. Gol de Flávio, avante tricolor.
A partir daí, confiante, ele passou a me zoar, tocando a bola de um lado para outro do estádio “Estrelão”. Sabia que podia fazer gols a qualquer momento.
Entretanto, quase no final do jogo empatei a partida: golaço de Doval, do meio de campo.
Comecei a zoá-lo, falando que a minha experiência faria a diferença.
Ele partiu ferozmente para o ataque e, por três vezes, esteve para desempatar. Todas através do ponteiro Cafuringa. Duas bolas (na verdade dadinhos), bateram na trave e uma passou por cima do gol.
Aí eu catimbava ainda mais dizendo que Cafuringa não fazia gols nem no time profissional, como iria fazer em jogo de botões.
No finalzinho da partida, outra chance para o Fluminense.
Era questão de honra para ele que o gol fosse de Cafuringa.
Mas ele desperdiçou de novo: o arisco e excelente ponta tricolor, que era juiz-forano, não era mesmo de balançar as redes adversárias e mais uma vez errou o alvo.
Era evidente o nervosismo do meu forte adversário.
Na saída de bola, pimba! Desempatei! Novamente com Doval, o cabeludo atacante argentino, ídolo da torcida rubro-negra.
E o Fla x Flu terminou 2 x 1 para o meu Flamengo.
A revanche tão reclamada por ele jamais aconteceu, claro.
Não correria o risco. Até porque, certamente, ele usaria como finalizador o gaúcho Flávio, o Minuano, terrível artilheiro tricolor daqueles tempos.
Hoje, passados mais de quarenta anos daquela emocionante partida, finalmente estou pensando em conceder a revanche ao meu querido amigo Evandro Rossi.
Quem sabe com Fred e Gabigol como protagonistas.
Depois conto o resultado!
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