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O HOMEM DA PRANCHETA

25 / fevereiro / 2021

por Valdir Appel


Joel deixou para trás os carrinhos de rolimã, as pipas, as bolas de meia e o juvenil do Olaria, da Rua Bariri. Mudou-se pra Tijuca, como os pais e a irmã, e foi contratado pelo Vasco. Não levou muito tempo pra se adaptar em São Januário. Foi logo botando as manguinhas de fora, impondo-se aos garotos do juvenil, assumindo a faixa de capitão e o comando do time do seu Célio de Souza em campo. Chegou prematuramente aos aspirantes e foi logo colocando faixa de campeão em cima do Flamengo, em 1967. 

No ano seguinte, o Vasco contratou Paulo Baltar, preparador físico, para ser auxiliar do técnico Paulinho de Almeida. Baltar introduziu inúmeras inovações nas atividades físicas dos jogadores, até então acostumados apenas aos exercícios calistênicos e corridas de curta e longa duração.

Primeiro trouxe com ele Hélio Viggio, professor de jiu-jitsu, que tentou nos ensinar alguma coisa de defesa pessoal e de como cair sem se machucar. Baltar gostava também de encerrar os treinos com uma série de exercícios abdominais. Munido de um porrete, circulava em volta dos jogadores. Ordenava que cada um deitasse, encolhesse as pernas e retesasse a barriga, depois desferia algumas porradas nos músculos abdominais da rapaziada. 

Até hoje não sei dizer se os músculos enrijeciam por causa dos exercícios ou pela visão do objeto de tortura.

Sua suprema criação foi a introdução do bambolê nas atividades. 

Amanheceu na Colina, distribuindo pelo gramado vários bambolês, formando figuras que proporcionavam aos atletas a execução dos mais variados exercícios. 

Jogo da velha, correr em ziguezague, saltitar com os dois pés, um pé de cada vez… 

No fim dos treinamentos, a diversão era garantida com a tentativa de cada jogador fazer o brinquedo girar em volta da cintura. 

Nei, cintura de pilão, rebolava feito sambista da Mangueira e não deixava a peteca cair, digo, o bambolê. 

Buglê e Moacir ficavam na deles, como bons mineiros: nem tentavam. 

Adilson, pernambucano macho, dizia que aquilo não era brinquedo de homem. 

Brito, tão duro como sua finesse, só enxergava o artefato no chão, como Joel, que arremessava o arco para cima e com força, sem, contudo, fazê-lo girar em volta dos duros quadris. O brinquedo beijava os seus pés antes do primeiro giro.

Esta prática não deu ao Joel mais mobilidade e traquejo, mas garantiu-lhe instantaneamente o apelido de Vassoura. Apelido este que seria reforçado, com o passar do tempo, por ser comprido, magro, e ter andar empertigado feito o Brito, de quem ainda herdou o hábito de fazer cara feia, dar esporro e meter o cacete em quem se aventurasse pela sua área. Não aliviava nos treinos e muito menos nos jogos. A diferença entre eles, é lógico, era a alta capacidade técnica do zagueiro Brito, que se notabilizaria pouco depois no México, onde sagrou-se tricampeão mundial pelo Brasil e foi eleito o jogador de melhor preparo físico da competição.

Fora de campo, Joel era um dedicado estudante, abstêmio, gostava de samba, de namorar e de automóveis. Com seu primeiro carro, um fusca azul, costumava fazer perigosas curvas nas imediações do Maracanã, fazendo pose de Emerson Fittipaldi ao som das músicas do Tim Maia. Autodenominava-se Joel Gogô, sem explicar porque, referência, talvez, ao som contagiante que tomou conta das rádios e boates do Brasil nos anos 1960. O embalo de Johnny Rivers at the Whiskey a Go Go precedia a febre que os Bee Gees e Os Embalos de Sábado à Noite causariam nas discotecas, praticamente 10 anos depois, pelo mundo afora.

Joel, com seu estilo viril, foi campeão carioca pelo Vasco em 1970 e brasileiro em 1974. Seu último clube foi o América, de Natal, onde conquistou alguns títulos potiguares antes de encerrar a carreira como jogador, formar-se em Educação Física e tornar-se um técnico de prestígio. 

Passou a ser conhecido como O Rei do Rio após a conquista do seu quinto título carioca, como técnico.

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