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O HALLOWEEN DE UM TRICOLOR NA FINAL

7 / novembro / 2023

por Bruno Montenegro

Nem tudo foi sonho na final da Libertadores. Pelo menos para um tricolor naquele Maracanã lotado, o 04 de novembro teve contornos de Dia das Bruxas.

Um roteiro de filme terror para aquele jogo não seria algo impensável, afinal o Fluminense é Cinema. Para quem prefere novela, acredite, há times mais indicados para acompanhar. São feitos para o gosto comum, dado ao previsível, com roteiros conhecidos e finais água com açúcar, banais. No filme Fluminense o drama deixa traumas e a glória é eterna, geralmente ambos com desenlaces épicos, seja numa final importante ou numa virada improvável no mata-mata de um Carioca qualquer.

E a final com a LDU foi a prova mais cruel disso. Dizem que as tragédias mais atrozes estão reservadas apenas aos grandes, e aquela partida foi a maior catástrofe esportiva de um clube na história do futebol. Um verdadeiro cataclismo que fez com que 80 mil pessoas tivessem uma parte de si paralisada ali naquele estádio durante 15 anos. Como era preciso ir em frente, coube a cada um, a seu tempo, colocar um sorriso amarelo resignado no rosto e aprender a conviver sem aquele pedaço, até o desfecho retumbante do último sábado.

Antes da apoteose que presenciamos nessa nova final, no entanto, um tricolor se viu transportado para aquela noite fatídica em 2008. Ao término do tempo normal, desavisado sobre o regulamento, acreditou piamente que o jogo iria para os pênaltis e passou a vivenciar, a partir dali, uma trama psicológica desesperadora. Desacompanhado, nem cogitou em se certificar das regras com um estranho, até porque por um lapso aquilo para ele estava posto. Assim, permaneceu durante longos 5 minutos convencido de que a disputa da América, tal como no passado, seria definida na marca da cal.

Sentiu-se despencar num pesadelo horripilante, daqueles que você acorda todo suado. Buscando mentalizar a vitória, apesar do mau presságio, começou a tentar escrever na cabeça um desfecho feliz alternativo, em que Fábio teria sua redenção num duelo contra Romero. Esforçava-se para visualizar o goleiro tricolor carregado nos braços, dando entrevistas como herói. Um final lindo, merecido e, apesar de sofrido, ainda desejado. Tudo isso, no entanto, igual a um filme do Fred (não o nosso Fred, mas o Krugger), acabava sempre por se dissipar pela imagem de terror do arqueiro argentino correndo para abraçar os seus companheiros, com a La 12 ao fundo a explodir pela sétima. “Por quê, Senhor?”

A película horrenda o fez reviver toda a sensação que sentira ao presenciar a disparada dantesca de Cevallos. Percebeu a perna tremer levemente em descontrole, a boca ficou seca. Tudo aquilo o fez se dar conta que a ferida, há tanto oculta, jamais havia fechado, “apenas” se tornado uma hemorragia interna, que gotejava há 15 anos. “Não quero ver isso”, atestou seriamente, já cogitando aguardar o final das cobranças na rampa de acesso do estádio.

Decidiu ficar. “F0d@-se! Se perder, perdeu”. Esse pensamento o embrulhou o estômago violentamente. “Depois taco essa merd@ fora”, pensou rapidamente a respeito do copo oficial da final, todo mordido em sua mão.

Foi quando uma frase de um torcedor ao seu lado, tal qual um alarme de um despertador, o fez acordar daquele sonho de morte. “John Kennedy vai meter um”.

“Como assim? Agora é pênalti.”

“Não, vai ter prorrogação.”

E de repente, com aquele diálogo de três frases, a tempestade mental teve fim e o sol nasceu no peito do tricolor, tal qual profetizara Cartola. E o nosso amigo voltou a sorrir, o que nesse caso era o mesmo que acreditar.

“Você devia estar sofrendo, hein?”

“Estava, amigo. Há 15 anos”

Agora passou.

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1 Comentário

  1. Paulo Gramado

    KKKKKKKKK. Que história braba. Realmente a disputa de pênaltis contra a LDU é o maior pesadelo da história do Fluzão. O curioso é que ninguém falou nem fala até hoje que aquele goleiro safado do timeco equatoriano se adiantou muito em todas as defesas que fez. Um absurdo. O cara se jogava muito p a frente. Injustiça máxima. Para mim, nem esta VITÓRIA GIGANTESCA contra o poderoso Boca Juniors apaga meu trauma de 2008…… O importante, é claro, é que o FLUZÃO É CAMPEÃO DA LIBERTADORES. Timaço. Devidamente reconhecido e valorizado pelo mundo inteiro do futebol pelo espetáculo que proporcionou dentro de campo.

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