por Mauro Ferreira
“A bola quicou um pouco antes do chute. Foi o suficiente para ela encaixar direitinho no peito do pé. Se não tivesse quicado, não ia sair aquele balaço”. Era assim que o Capita contava o último gol da Copa do Mundo de 1970, no México. E assim, dessa forma simples ele levava a vida. Estar ou não sob holofotes, pouco importava, mesmo vivendo a vida toda sob eles. Como jogador, treinador, comentarista, vereador, marido de atriz global. Não escondia o que pensava, muito menos sua paixão pelo Fluminense – Marcio Guedes insiste que era botafoguense. Falava o que desse na telha, fosse numa entrevista séria ou na resenha da pelada.
Carlos Alberto Torres, o Capita, se foi de supetão. Como quando falava o que lhe vinha à cabeça. Não perdeu tempo nem deu tempo ao sofrimento, como quando disparou aquele petardo que encerrou a goleada brasileira sobre a Itália. Um chute. Um chute e rede. Nenhum toque a mais na bola. Nada. Um chute. Hoje, um infarto. Rápido, certeiro, poderoso. Como aquele gol. O gol que vai durar a eternidade do futebol.
Se em 70 o choro vinha para lavar a alma de felicidade, hoje a lágrima corre de profunda tristeza. Ele certamente mantém o sorriso franco, o mesmo que alegrava qualquer um em suas resenhas. O mesmo que exibia nas peladas que jogava com qualquer um, em qualquer tempo, a qualquer hora. O mesmo dessa foto aí, no time do Jornal dos Sports. Eu era o goleiro e ele jogava essa pelada com a gente toda segunda-feira no Montanha Clube, no Alto da Boavista. A zaga facilitava o meu trabalho! O capitão da melhor seleção de futebol de todos os tempos estava ali, ao meu lado! Não vai estar mais. Não vai ter mais resenha divertida. Mas sempre, sempre, aquela bola vai quicar e encaixar direitinho no peito do pé do Capita.
Triste…
0 comentários