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O GOL DE MAX E A SAGRAÇÃO DO DOMINGO

18 / julho / 2017

por Marcelo Mendez


Domingo último no caminho da cobertura do jogo entre DER x Unidos do Morro, me peguei envolto a pensamentos e apreensões dos tempos que vivemos.

A saudável teimosia de se ter alguma responsabilidade e o sol por testemunha de tudo.

No trólebus a caminho do estádio Baetão em São Bernardo, repousei a cabeça na janela, liguei o fone e ouvi Jhonny Shines cantar; “Two Steeps to Hell”…

O lamento profundo de um Blues rasgado do peito de um homem que viveu um milhão de mortes como Shines viveu tem toda densidade onírica necessária para entender e se aproximar do que se sente nos terrões e arrabaldes de onde se pratica o futebol da bola marrom. A várzea…

O futebol de várzea é um universo paralelo de homens que “quase foram”, de meninos de 20 e uns poucos e parcos anos que não podem mais sonhar em ser jogador de futebol profissional por conta do avançado da idade.

O que pode então ser mais melancólico do que um “velho” de 20 e poucos anos? O que pode ser mais triste do que se ver podado do seu direito de sonhar?

Sim, caros, esses meninos não servem mais para o futebol profissional e elitizado. É nesse momento que a várzea os acolhe.

É ali então, onde se tem meninos de 20, de 40 ou 50 anos a jogar pela mesma camisa. Gordos, magros, pretos, brancos, amarelos, pobres sim, porém felizes por profissão de fé. Na várzea vem o réquiem necessário para o sonho que todo humano precisa. Que todo mundo tem que ter direito de viver. E domingo foi a vez de Max vivê-lo.

E como viveu…

Jogados lá um punhado de minutos os quais não faz a menor diferença. O Estádio do Baetão lotado das gentes humildes e simples, com entrada grátis, churrasquinhos e drinks psicodélicos nas tribunas, tinham em seus rostos, risos de plenitude. O jogo comia; tudo era extasiante e a beleza do espetáculo de humanidade era tanta que eu custava a me concentrar no que acontecia na cancha.

Eis que a bola chega no fundo no campo…

Tal e qual os bons laterais antigos, Daniel vai ao fundo, levanta a cabeça e cruza a bola na área em direção a Max. O atacante do DER podia fazer tantas outras coisas apenas burocráticas… Podia escorar a bola para quem vinha de trás, podia deixar a bola passar para tentar dominá-la, podia ter tentando um chute apenas comum, mas não…

Max estava na várzea. Ela, a várzea, não o perdoaria se ele não fizesse o que fez:

Com a beleza de mil Nureyevs a bailar, com a leveza dos malandros bailarinos da Lapa carioca, brasileiro como os grandes do futebol, Max deu apenas um passinho para trás, lançou seu corpo de menino ao alto e então, como um guepardo, finalizou em um voleio épico a estufar as redes do Unidos do Morro.

Épico!

Os instrumentos de samba o saudaram, o bebum se desfez de sua cerveja arremessando o copo de plástico cheio ao alto, o casal apaixonado se beijou nas arquibancadas, o cronista se emocionou! Todos saudaram Max e sua obra de arte.

A grama de plástico do Estádio Baetão teve a honra de ver um menino do terrão ser maior que Gaudi, Truffaut, Ticiano, Monet e Goya. Sua obra de arte foi muito maior que todas dos Mestres!

Que lindo aquele gol!

Depois dele, o jogo seguiu. O DER de Max venceu por 2×1 e vai para a final do campeonato de São Bernardo.

Ao término outras conveniências se cumpriram, mas nenhuma delas importava. Então me desviei delas para observar Max indo para o vestiário. Vi que no seu rosto havia toda uma imensidão de um sorriso.

Nesse momento o domingo passou a ser completamente, Santo…

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