por Marcelo Mendez
Ares de outono para um sábado de futebol de várzea:
Dia de paz, de sossego.
Pelo caminho cheiro de sol, de dia quente, de uma tarde bonita que chegou para alegrar os corações saudosos de dias claros. O jogo seria no campo do Nacional e eu fui direto do centro de Santo André para lá. Na chegada, no ponto de trólebus, uma senhora segurando o netinho pela mão me recebe.
Em meio à esperança que a linha 285 Ferrazópolis chegasse logo, ela encontrou um tempo para me sorrir, dar boa tarde, de me contar que estava ali havia não mais do que 10 minutos e que já, já viria nosso Trólebus. Veio.
Ela entrou, ficou com o neto pelo banco da frente e eu fui para parte de trás.
Sentei em um banco sozinho, coloquei os fones e, então, Johnny Shines começou a cantar um blues em meu ouvido; “The Blue Horizon”, nada mais pertinente.
Pela voz do bluesman vejo a vida passar em Santo André, vejo os ciclistas sazonais, as senhoras que rezam suas preces nas escadarias da igreja do Bonfim, moças da ginástica, os boêmios da cidade, os homens de fé do asfalto. A simplicidade que faz do sábado um dia de poesia plena.
Chegando para cobrir uma eliminatória da Copa Santo André entre Vila Alice x Unidos, munido de Blues nos ouvidos e desse sentimento de simplicidade, observo os homens da várzea e suas chuteiras coloridas em busca de um réquiem de sonho curto.
Alguma glória mínima que os redima de qualquer outra coisa que seja apenas comum. Quando o árbitro apita o inicio de uma peleja de futebol de várzea, começa a única chance que os envolvidos têm de se tornarem algo santo.
É a reserva lúdica necessária para tempos bicudos.
Em campo a partida era dura:
Disputada gota a gota de suor, os times que haviam empatado o primeiro jogo em 3×3 jogavam por uma vaga debaixo de um bom sol de 14h. A bola subia, descia, corria, saltitava e nada de muito promissor parecia acontecer naquele 0x0, até que o treinador do Unidos saca do banco seu trunfo:
Jiló…
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