por Marcelo Mendez
Ontem eu não esperava muita coisa do jogo das 18 horas do Maracanã, mas sim, Bahia e Flamengo fizeram um jogão de bola.
O placar de 4×3 para o Flamengo teria muita coisa aqui a ser comentada, mas eu já aviso de antemão aos amigos aqui do Museu da Pelada, que ainda assim, nada será dito sobre o que aconteceu com bola rolando. E sim, não vou falar porque obviamente um fato superou todas as coisas que se valem de quando a bola rola.
– Cala boca, seu Negro!
Quando Gerson acusou essa fala dita pelo meia Ramirez do Bahia, nem jogo deveria mais ter. Só quem passa pelo que Gerson e outros tantos Brasileiros Pretos passam, que sabe do quanto que isso dói. O quanto isso avilta, o quanto isso rasga a carne de quem é exposto ao racismo nosso de cada dia. O Brasil é um País que vive envolto às consequências de um racismo estrutural que faz com que as pessoas passem a naturalizar situações como essas, fazendo crer que seja normal, ou no máximo um equívoco de quem o acusa. Não:
Racismo é crime.
Não é uma moda, como afirmou o técnico Jorge Jesus. Tampouco é a malandragem que Mano Menezes afirmou ser, discutindo com Gerson da beira do campo, tergiversando a discussão para um diversionismo de garoto no recreio da quinta série numa atitude vexatória e lamentável.
Racismo é crime que precisa ser visto como tal, sem as vestes do relativismo, sem ficar subjugado a outras situações, sem ter que ficar em segundo plano de nada que suspenda a discussão sobre o assunto, sobre o fato, sobre a dor de quem sofre essa situação.
Essa coluna fala sim das coisas do campo, das partidas, dos esquemas táticos, mas essa coluna jamais tratará o futebol como uma ilha isolada de todo o contexto social ao qual ele faz parte e atua. Sendo assim, não, não terá nada de bola rolando aqui hoje não.
Esse jornalista, primeiro colaborador do Museu Pelada, atuante aqui nesse espaço desde a fundação do projeto, se coloca visceralmente a favor de Gerson, parabeniza o Esporte Clube Bahia pela rápida postura, mas em vez de apenas lamentar contra o ocorrido, se coloca aqui e coloca seu trabalho como instrumento de luta contra essa coisa nojenta que é o racismo.
No jogo da vida, eu Marcelo Mendez, sou o Gerson. Tamo junto.
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