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O FUTEBOL NO ESTÁDIO, NA TV E MEIOS ESCRITOS NÃO É PARA POBRES

20 / fevereiro / 2019

por Paulo Escobar


Corote Molotov

O futebol de décadas pra cá no que diz respeito para quem é feito me incomoda profundamente. E me incomoda muito mais por conta de onde vejo a sociedade. Há 19 anos trabalhando e lutando com a população de rua é dali que enxergo as coisas, lá também vivemos e respiramos o futebol, onde temos um time de várzea com moradores de rua, o Corote Molotov (fazendo propaganda temos uma página no Facebook).

Não é novidade que a partir do momento que entramos na era dos lucros extremos, o futebol tem se tornado a cada dia mais inacessível às pessoas mais pobres. E por todos os meios se torna um produto que pode ser presenciado apenas por alguns.

Nos estádios há tempos se encarece mais o acesso, os ingressos, dependendo do jogo, você amigo pobre não terá como presenciar mesmo, valores absurdos e se o time está indo bem costumam ficar mais caros. Quando o time está mal os ingressos se barateiam, aí se recorre ao povão para levar o incentivo deles quando se faz necessário, em tempos de boas campanha se encarece de novo e o público de teatro que volta ao “espetáculo”.


Poucos times pensam em setores populares nos estádios, e na construção das malditas arenas (que vieram padronizar e tirar as particularidades de cada estádio) os setores populares foram demolidos e não foram restaurados, mas sim extintos. Temos uma população de maioria pobre, em um país de sucessivos maus governos e que a cada dia que passa aumentam pobres, mas os dirigentes e entidades parecem fingir demência diante de tais realidades.

Há uma criminalização dos pobres e suas torcidas nos estádios, engrossando assim que lugar do pobre é fora das arenas. Quando há brigas são os primeiros alvos a exemplo das organizadas que são sempre os motivos de desconfiança nas confusões. Essa generalização é conveniente para encarecer e querer mostrar que o público do ingresso caro é o “civilizado” e o público do ingresso popular são os “bárbaros”. Essa falsa generalização também joga a serviço da exclusão.

E não só estádios são os que excluem, os meios de comunicação na sua versão televisiva e escrita também. Na parte televisiva, a TV fechada e os Premiere são inacessíveis a muita gente, e às vezes é somente lá que você consegue acompanhar seus times.


Os programas esportivos muitas vezes ficam centralizados somente naquele tatiquês chato e que se faz de uma maneira que poucos entendem. Somente aos chamados “intelectuais” do futebol, não se dosa ou não se tem preocupação se aquilo que tá sendo dito é acessível a quem assiste, pois o problema sempre vai ser atribuído àqueles que não entendem e não àqueles que não fazem traduzíveis.

Ou então muitos programas da TV aberta e fechada que são verdadeiras chatices, quando não se tem pauta se recorre a verdadeira idiotização, isso quando não se utilizam horas para falar dos times ricos e os times com menos recursos ocupam menos tempo.

As crônicas esportivas muitas vezes partem de uma visão longínqua da realidade da população, com uma linguagem insuportável e distante do dia a dia do povo pobre que vive e sofre o futebol. Quem escreve tem a preocupação se o Seu João ou Dona Maria vão entender o que é escrito? Há uma preocupação de nós críticos a este futebol que exclui os mais pobres, se é acessível aquilo que escrevemos a estas pessoas que são milhões ou escrevemos para nosso gueto também?

Nos ditos meios alternativos muitas vezes usam um linguajar acadêmico, que usam falas de forma estranha para a maior parte da população, pensamos se essas nossas ideias mesmo críticas são acessíveis? Nos fazemos traduzir às pessoas que não tiveram os mesmos acessos que muitos destes “intelectuais da Bola”? Muitos não têm nem a preocupação de pelos menos explicar aquilo que falam, mais parecem fazer programas para sua bolha de amigos e não para o restante da população.


Na várzea a colocação de grama sintética em muitos campos tem encarecido os valores de muitos times mais pobres, campos de R$ 1500 por mês para alguns times jogarem aqui em São Paulo mostram a exclusão chegando na várzea também. Além de caro é um risco para a saúde o sintético, já que em tempos de calor, as temperaturas se elevam mais ainda, a borracha esquenta e torna insuportável o jogo, mas como só se pensa no lucro e na exclusão de quem não tem dinheiro, isso pouco importa.

Então meu amigo pobre, a cada dia que passa o futebol é menos pensado para você, dirigentes e entidades não te querem dentro dos estádios. Na televisão você também não está nos planos, e nos meios escritos mesmo aqueles que criticamos muitas vezes não nos tornamos próximos na linguagem e nossos pensamentos muitas vezes são para nossas bolhas, isso também é um meio de te excluir dos meios escritos.

A cabeça costuma pensar onde os pés pisam, e isso mostra muitas vezes onde estão os pés daqueles que pensam, organizam e articulam o futebol.

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