por Mateus Ribeiro
O Brasil passa por um momento difícil. Como sempre passou, é bom lembrar.
Passamos por uma crise econômica e política que está se arrastando por longos anos, e parece não ter fim. A atual paralisação parece ter sido o ápice dessa montanha que passou anos sendo construída, abusando da paciência do povo brasileiro.
Povo brasileiro, aliás, que chegou no seu nível máximo de estresse na última década. Algumas pessoas, um pouco mais exageradas, chegaram a perder amizades antigas por divergências políticas e ideológicas. Outras, um pouco mais sensatas, tentavam manter um debate. E no meio de tudo isso, algo me chamou a atenção: o número de pessoas escolhendo o futebol (mais precisamente a Copa do Mundo) como bode expiatório.
O Facebook se tornou uma Universidade de críticas ao papel do esporte bretão: “O Brasil falindo e a população preocupada com a Copa do Mundo”; “O brasileiro só quer saber de bola e mais nada”, e mais algumas frases prontas foram compartilhadas em grande número.
Depois de ler tanta besteira, em um certo momento, meus olhos não estavam ardendo mais, e resolvi explicar um pouco o óbvio: ao contrário do que muita gente tenta cravar, o futebol não é o ópio do povo. Está bem longe disso, aliás. Apesar de não ser necessário, alguns fatores podem explicar melhor o que quero dizer. Vamos lá!
1- Futebol é lazer: Antes de qualquer coisa, o futebol é uma forma de lazer. Seja acompanhando na sua casa, em uma padaria, um bar, ou entre amigos. Acredite você ou não, ver meu time do coração (ou qualquer outro) representa a mesma coisa que assistir aquele filme que você esperou meses para sair (e passou mais outros bons meses comentando), ou então, ir até o show daquele artista que você tanto gosta. Vale lembrar que o lazer é um direito social, de acordo com a Constituição de 1988.
Imagina só se todo mundo deixasse de assistir futebol, assistir filmes, ver shows, assistir peças de teatro, sair de casa para jantar, como o Brasil seria um lugar melhor pra se viver?
Já pensou como a vida seria se nossos dias fossem resumidos em 90% trabalho e 10% “descanso”?
2- O futebol não atrasa o País: Talvez você fique chocado com essa informação, mas o futebol está longe de atrasar o País, seja social, economicamente, ou em qualquer outra esfera. Não vai ser o fato de uma grande parcela assistir um jogo de futebol que vai fazer uma nação ir direto ao abismo. Não precisa ser muito esperto para saber disso.
Agora, se o camarada “deixa de colocar comida em casa pra ver o time jogar” (o que eu nunca presenciei, em 25 anos de futebol), aí o problema é dele, e não do futebol.
3- Ser fanático por futebol não é “coisa de terceiro mundo”: Mais um fato que vai chocar a parcela anti chuteiras. Antes de tudo, peço que quem está lendo observe as fotos abaixo:
As imagens mostram estádios da Alemanha, Espanha, Holanda, Suíça, Noruega e Dinamarca, respectivamente. Note que todos os estádios estão cheios de torcedores.
O que quero dizer com isso? Países com alto índice de desenvolvimento social e econômico são habitados por pessoas que amam futebol. É SÉRIO! O PRIMEIRO MUNDO TAMBÉM GOSTA DE FUTEBOL. Isso para não falar de Itália, Inglaterra, França, Japão, Suécia, Bélgica e mais uma infinidade de países de primeiro mundo que amam o futebol.
4- O Futebol movimenta a economia: Um clube de futebol não é composto apenas por jogadores e comissão técnica. Profissionais de muitas áreas trabalham ali: auxiliares de cozinha, auxiliares de limpeza, economistas, administradores, o pessoal que cuida da grama, os roupeiros, e todo tipo de trabalhador está ali para fazer a roda girar.
A partida de futebol também mobiliza muita gente: a galera que fica vendendo espetinho, salgado, e todo tipo de quitute nas proximidades do estádio, com o intuito de fazer uma renda extra. E tem também a turma dos aplicativos de carona, o aumento de pessoas comprando bilhetes para utilizar o transporte público.
E quando é um time grande jogando em cidade pequena então? Um fenômeno que acontece todo ano, principalmente em torneios continentais e nacionais que fazem times dos mais variados níveis se enfrentarem. Jogos de times gigantes em cidades minúsculas não são nenhuma novidade, e fazem com que a cidade fique em evidência. Por consequência, é dinheiro que entra na rede hoteleira, em restaurantes, e tudo o mais.
Bom, acho que falar sobre pessoas que ganham seu sustento com o jornalismo esportivo não é necessário, né? Próximo tópico.
5- “Enquanto você grita gol, te exploram”: Essa afirmação, que é uma das mais sem nexo que já ouvi (e não sei quem criou), visa pegar o futebol como bode expiatório, e símbolo de alienação. Basicamente, consideram o futebol o circo da política do pão e circo.
Sinto informar, tenho uma péssima notícia para você que é mais culto que o fã de futebol, e passa o dia ouvindo Chopin, estudando as obras de Sheakspeare e assistindo cinema cult Russo. O sistema te explora também.
6 – “Futebol é diversão de quem não é tão inteligente”: Acho que não preciso falar sobre o número de pessoas influentes que gostam de futebol, não é mesmo? Seja na política, na música, no cinema, existem MILHÕES de pessoas com muito talento, que são fanáticas por futebol. Muito mais talento, aliás, do que o “talento” que foi necessário na cabeça de quem criou, ou segue a teoria de que futebol é coisa de “gente burra”.
Dito isso, acho que consegui deixar mais claro que o futebol não é uma forma de alienação. Ao menos, não na sua essência. Agora, se as pessoas se deixam alienar, é uma pena. Seja o lazer, seja a religião, seja ideologia, o importante é que usemos essas armas para melhorar nossa vida, e não que sejamos usados.
Espero que tenham entendido o contexto. Agora vou pegar fila para pagar contas, e depois, acompanhar os preparativos para a Copa do Mundo, afinal, ninguém é de ferro, né?
Um abraço, e até a próxima!
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