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O FUTEBOL É SIMPLES

4 / dezembro / 2022

por Serginho 5Bocas

PC Caju está constantemente criticando em suas crônicas no “museudapelada” e eu assino embaixo que o negócio é chato demais. É um tal de tentar falar difícil e criar novas formas de se comunicar com o telespectador, que complicam mais do que esclarecem a cabeça do torcedor. Aonde isso vai parar?

João Saldanha deve estar se revirando no túmulo com essa turma iluminada, Luiz Mendes, então, nem se fala, o comentarista da palavra fácil deve se retorcer. Ah que saudades de Mario Vianna com expressões simples e soltas, que diziam mais do que frases pomposas:

“Errrrrou”, “banheeeira” e a melhor de todas: “Gol legalllll”.

O que dizer dos comentários de Washington Rodrigues, o “Apolinho”, que ainda se comunica aos 86 anos, com extrema facilidade, fazendo o torcedor comum entender sem esforço o que aconteceu no campo de jogo.

Suas expressões caíram facilmente no gosto do povo: “Chocolate” significa goleada, “Estopa” é bola na rede, gol. Além delas, podemos citar “Geraldinos e Arquibaldos”, “Mais feliz do que pinto no lixo”, “Briga de cachorro grande”, “Tá tão quente que urubu voa com uma asa e se abana com a outra”, entre tantas outras eternizadas e adoradas pela galera.

Engraçado que eu nunca pensei que fosse chegar no futebol da TV, o que a gente vê amiúde no mundo corporativo. Essa enxurrada de palavras pomposas, escolhidas criteriosamente para causar impacto, um show de neologismo dos mestres do ilusionismo, que deixam a gente se achando burros pra caramba!

Nas empresas em que trabalhei, apesar de clichê, sempre foi relevante para se sentir incluído, saber o significado de termos estrangeiros: “follow-up” para acompanhar um processo; “feed-back” para dar um retorno de alguma solução ou problema; “networking” para saber com quem podemos contar em nossa rede de relacionamentos profissionais, entre outras, mas no futebol, nunca achei que esses modismos iriam emplacar, me enganei, tá na moda.

O futebol atual está surfando esta mesma onda e hoje é comum escutarmos termos, que a gente tem que traduzir para acompanhar o jogo. Uma tragédia ou seria comédia?

Agredir ou quebrar a bola é simplesmente ir de encontro a bola, chutando ou cabeceando a pelota. Aqueles pontas endiabrados que tanto alegraram nossas tardes partindo pra cima dos laterais rumo à linha de fundo, agora são jogadores de beirada do campo. O time que joga com as linhas altas veio substituir o que chamávamos de marcação pressão no campo do adversário e a famosa segunda bola, caso não esteja enganado é o antigo rebote, que o cabeça de área marcava na meia-lua de um córner, quando seu time atacava.

Hoje temos visto vários ex-jogadores, que não foram tão bons em campo, mas são muito bons de relacionamento fora dele, se empregando com bons salários nas redes de TVs, porque se adaptaram rapidamente a esta realidade. Nem precisa saber interpretar ou antever algum movimento das equipes, basta gravar algumas pérolas dessas e falar na hora certa dentro de um contexto, que está tudo bem, uma savana, um deserto de pensamentos e ideias.

O conteúdo de suas respectivas análises é verborrágico, precário, repetitivo e sempre agradando o narrador manda chuva, que manda mais do que o diretor, mas ninguém que assiste liga mesmo, pois está todo mundo entretido com as estatísticas, que também não servem para nada, mas que causam muito impacto, ou alguém não acha importante saber que a Suiça não vence Senegal há 50 anos, sem nunca ter jogado contra? Vai vendo…

Nesta seara da fala rebuscada, talvez o grande mestre atual seja o técnico da seleção brasileira Tite, que faria o ex-treinador Sebastião Lazaroni, mestre dos mestres desta técnica oratória do passado, se sentir pequeno. Recentemente ouvi coisas que peço ajuda para entender: “extremo desequilibrador”, “treinabilidade”, “Rec 5”, “sinapses no último terço”, “performar com resultado”, entre tantas outras, que me deixou na dúvida. Por que será? Chupa que é de uva!

Prefiro ter o trabalho de pensar por mim mesmo, ver o futebol de forma simples e curtir a máxima do grande ex-jogador, hoje grande escritor e comentarista de futebol Tostão, que sempre foi simples no campo e na pena, mas que cunhou: “Humildade não é o conhecimento do que somos, mas o reconhecimento do que não somos”, frase de extremo bom gosto que resume a personalidade da fera.

Outra fera do futebol que admirava o simples foi Cruyjff. Certa vez tentando explicar sua visão do futebol, deixou esta pérola: “O futebol é muito simples, mas jogar um futebol simples é a parte mais difícil do jogo”

A música “Parabéns pra você” é simples e antiga, mas nunca mudou a letra, porque agrada e atende o propósito plenamente sem complicar. O simples não é fácil de ser feito, apesar de parecer que é. O futebol é simples, mas porque não complicar se a maioria que ouve gosta disso, não muda de canal e o retorno compensa?

Forte abraço
Serginho 5Bocas

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7 Comentários

  1. JAILTON DE SANT ANNA RODRIGUES

    Perfeito!!!
    Infelizmente no mundo de hoje falar difícil, complicado e com pouca clareza passou a ser sinal de capacidade e competência, tentando passar uma mensagem de superioridade intelectual, quando na verdade, na minha opinião, passa mais uma mensagem de insegurança quando se esconde atrás de palavras rebuscadas.

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  2. Acyr G Trindade

    Prezado Sérgio. Concordo totalmente com a sua colocação acima.
    Agora, como você bem disse , (“nem precisa saber interpretar ou antever algum movimento das equipes…….”), o pior é que a maioria desses narradores e comentaristas entendem pouquíssimo de futebol, por mais partidas que narrem ou comentem. Uma lástima !
    Surge então uma pergunta: como esses “idioters” conseguem esses cargos nas empresas de TV e Rádio, enquanto pessoas altamente qualificadas ficam de fora ?
    Acho que a resposta está naquela afirmação do Grande Nelson Rodriges: ” os idiotas estão tomando conta do Mundo, não pela competência, mas pela quantidade.
    Boa Copa para todos e Saudações Rubro Negras !

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  3. Adilson Dutra

    Onde assino? Você é PC Caju merecem dez.

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    • Evaldo Santana

      Concordo plenamente os caras falam umas palavras que só eles entendem

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      • Roberto Ernane Alexandre

        Que beleza de texto! Ninguém aguenta mais esses falaciosos que pensam que entendem de futebol.

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  4. laudio

    Concordo!

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  5. Marquinho do monza

    Perfeito na narrativa como sempre meu amigo cinco. Até pra jogar com a bola no pé tá difícil, imagina ouvir esse narradores que foram ex-jogadores tirando os empregos de quem realmente entende de futebol. Sem falar do VAR, do comentários de arbitragem “pelo amor de Deus”. O futebol ficou chato, engessado, mais ainda é a alegria do brasileiro. VALEUUUUUU

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