por Elso Venâncio
Uma conversa entre Carlos Alberto Parreira e Reinaldo Pitta, procurador do garoto Ronaldinho, ajudou a definir o destino da “promessa de craque” na Copa de 1994, nos Estados Unidos.
— Parreira, e os atacantes?
— Bebeto e Romário, titulares. Müller, Viola, sei lá… Paulo Sérgio. Tem Evair, que não vai jogar.
— Que tal Ronaldo, para ganhar experiência?
Parreira ficou pensativo. Eis que Ronaldo Nazário surge na convocação, e Evair, em grande forma, fica de fora. Foi o único trainee da história da Seleção numa Copa do Mundo.
Quatro anos após o tetracampeonato, com 21 anos, Ronaldo já seria o protagonista do Mundial da França. Não à toa, pois já havia sido eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo por duas temporadas seguidas. Após a derrota na final por 3 a 0, para os donos de casa, deixou o campo “aéreo”, com as chuteiras da Nike envoltas no pescoço, olhando para o infinito e procurando entender o drama que viveu horas antes de a bola rolar.
O técnico Zagallo, sério, com o rosto suado e avermelhado, surgiu esbaforido num corredor com parede mal rebocada e uma fita azul separando os entrevistados dos jornalistas, com todos de pé no recém-inaugurado Stade de France. “Vocês não imaginam o que aconteceu! Ronaldo passou mal após o almoço. Teve convulsões. Dr. Lídio Toledo vai explicar”.
O jornalista Mauro Leão, do jornal “O Dia”, resmunga:
— E por que jogou?
— Por quê? — Zagallo respira fundo. — Isso abalou o grupo. Por quê? Por quê? Porque jogou, porra! — grita. — Você está satisfeito? — aponta, com dedo em riste, para Mauro Leão.
— Eu não! Satisfeito está Aimé Jacquet, campeão do mundo.
As rusgas normais com a imprensa já haviam aumentado após as críticas ao esquema retrancado do Parreira na conquista do tetra, em 1994. Romário só foi convocado por Parreira e Zagallo após clamor popular nas Eliminatórias de 1993, além de interferência do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Na Copa da França, o Baixinho estaria recuperado durante a competição, mas acabou cortado, se revoltando contra Zagallo e Zico, que era o coordenador técnico. Colocou caricaturas depreciativas dos dois no banheiro do Café do Gol, boate que abriu na Barra, e o caso foi parar na Justiça. Romário lembrou que esperaram por Branco e não tiveram paciência com ele, um homem gol!
Branco estava contundido no início da Copa de 1994. O lateral teve chance de jogar com a suspensão do Leonardo e marcou um gol decisivo contra a Holanda, em Dallas.
Sobre Ronaldo, na Copa de 2002, o destino repararia uma injustiça do Mundial anterior. Há muitos anos já apelidado de Fenômeno pelos italianos, ele foi o artilheiro da competição no Japão e na Coreia do Sul, sendo decisivo para o pentacampeonato.
Conquistar uma Copa não é tarefa fácil! Só unindo gênios da bola no time…
1958 e 1962 – Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos;
1970: Pelé, Gérson, Tostão e Rivellino;
1994 – Romário e Bebeto;
2002 – Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.
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