por Elso Venâncio
Nos anos 50, com Getúlio Vargas iniciando a sua era democrática, um assunto dominava as conversas e o noticiário na capital da República. A união de Waldir Pereira, o craque Didi, do Fluminense, um negro elegante, carismático, cabeça erguida dentro e fora de campo, e a bela Guiomar Batista, jovem e famosa cantora e atriz da Rádio Nacional. O jornalista Fernando Calazans escreveu em sua coluna no jornal ‘O Globo’:
“Didi e Guiomar formavam o casal mais famoso da época, sempre presente nas colunas sociais.”
Didi nasceu em Campos dos Goytacazes e foi, em campo, um dos maiores maestros que o futebol já viu. Marcou o primeiro gol da história do Maracanã e inventou uma batida na bola que ninguém conseguia imitar. Com a parte externa do pé, chutava forte. A bola subia e de repente descia, mudando de direção em pleno ar.
Luiz Mendes, o ‘Comentarista da Palavra Fácil’, apelidou o chute de ‘Folha Seca’. Mendes dizia:
“Didi foi quem ensinou Gerson a lançar.”
O meia criou, também, a paradinha na cobrança de pênalti.
O grande Ary Barroso, locutor esportivo, pianista e compositor de algumas músicas eternas, como ‘Aquarela do Brasil’, namorava Guiomar quando ela se apaixonou por Didi. Ary mergulhou desde então na boêmia e compôs o samba canção ‘Risque’, sucesso na voz de Linda Batista, outra estrela do Rádio:
“Risque meu nome do seu caderno
Pois não suporto o inferno
Do nosso amor fracassado
Deixa que eu siga novos caminhos
Em busca de outros carinhos
Matemos nosso amor passado”
Didi entrava pelo portão principal das Laranjeiras. Aliás, ele e Carlyle, um artilheiro que tinha se destacado no Atlético Mineiro e na Seleção Brasileira. Carlyle era a nova versão de Heleno de Freitas. Galã, brigão, amante da noite e sem depender do futebol para viver. Os demais seguiam em direção à porta dos fundos, na Rua Pinheiro Machado. O ‘badboy’ Carlyle se tornou empresário, vendendo ternos e camisas importadas no centro do Rio.
As brigas, movidas por ciúmes, eram constantes na vida do famoso casal. Didi era marcado de perto pela esposa. Se Didi errasse um passe durante o jogo a torcida gritava em coro o nome de Guiomar, culpando-a pelo lance.
Na Copa de 1958, a antiga CBD, hoje CBF, decidiu proibir a ida de esposas e namoradas dos jogadores ao Mundial. Na verdade, não queria Guiomar na cola de Didi, que quase desistiu de ir à Copa que o consagrou.
Ele foi o primeiro jogador a receber da FIFA o título de “Melhor do Mundo”, após a Copa da Suécia. Da imprensa europeia recebeu o apelido de ‘Mr. Football’. O Presidente Juscelino Kubitscheck, enquanto recepcionava os campeões do mundo no Palácio do Catete, chamou Didi a um canto, para um papo reservado:
“Que honra e emoção poder estar aqui com meu ídolo” – derreteu-se JK.
Didi vestiu, ainda, as camisas do Madureira, Fluminense, Botafogo, seu clube do coração, Real Madrid e São Paulo. Defendeu o Brasil em três Copas – 1954, 1958 e 1962 – sendo campeão nas duas últimas. Treinador de sucesso, dirigiu grandes clubes e a seleção do Peru, na Copa de 1970. Faleceu, aos 72 anos, em maio de 2001, sem realizar o sonho de ser técnico da Seleção Brasileira.
0 comentários