por Jack Alves
A primeira lembrança que tenho do Sócrates é da Copa de 82. Apesar de uma criança ainda muito pequena e com pouco entendimento, nunca esqueci do grito de gol e do barulho do banquinho quebrando na sala: era meu saudoso pai comemorando o gol do Brasil contra a então União Soviética, na estreia brasileira na Copa. Eu estava dormindo no sofá da sala e acordei com a entusiasmada festa do meu pai, que depois foi até mim para me abraçar e me acalmar do susto.
O tempo foi passando, eu fui crescendo e, como a maioria das crianças brasileiras, o amor pelo futebol foi sendo cultivado dia após dia. Meu pai, um grande torcedor do Fluminense, era fã do Doutor Sócrates. Suas palavras eram sempre de admiração em relação à classe, categoria e até sobre as comemorações dos gols do grande craque brasileiro. Falava pra mim:
– Olha a comemoração do Doutor, sem palhaçada, apenas o punho cerrado no ar!
Só essas lembranças maravilhosas com meu pai já seriam suficientes para eu também gostar do Sócrates, mas a influência foi além por outros motivos. O craque mostrou pra mim, desde pequeno, que era possível jogar futebol, estudar, ler e se preparar para vida, pois o futebol não era uma “ciência exata”. Acima de tudo, estudar e se informar para não ser um alienado. Um jogador profissional, craque da Seleção Brasileira, do Corinthians e ainda médico, não tinha como ser uma má influência.
O vasto repertório de dribles, a categoria para dominar a bola, o chute preciso com ambas as pernas e, claro, os geniais passes de calcanhar. Enquanto os jogadores sem categoria usavam o calcanhar para aplicar verdadeiros “coices” nos adversários, Magrão usava para fazer a bola chegar nos companheiros. Era bonito ver o Sócrates jogar, assim como foi emocionante ir vê-lo jogar no Flamengo com o genial Zico, mesmo que por pouco tempo.
A primeira Copa que eu vi já com uma maior percepção foi a de 86. Com o amor sacramentado pelo futebol, vi Sócrates, Zico e companhia em busca do tetra. Vi o Magrão fazer o gol da vitoria na difícil estreia contra a Espanha. Mas, infelizmente, mais uma vez ficamos pelo caminho, dessa vez com a França como algoz. A admiração pelo Sócrates, no entanto, continuou. Afinal, um craque do futebol mundial, médico, com nome de filósofo e com Brasileiro no nome, não tem como passar despercebido. O Doutor sempre tinha algo relevante pra falar em suas entrevistas. Enfim, um craque em diversos sentidos!
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Doutor Sócrates, fica aqui minha gratidão nessa singela homenagem no dia do seu aniversário. E é claro, com o punho cerrado no ar!
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