por Rubens Lemos
A maior atuação individual de um jogador no Rio Grande do Norte foi de Alberi, do ABC de Natal, 27 anos, contra o Flamengo, treinado por Zagallo. Alberi José Ferreira Matos nasceu no Pina, área pobre do setor praiano do Recife (PE). Começou no Santa Cruz (PB) e o ABC o trouxe em 1968, descobrindo um ilusionista da bola, um mágico provinciano de uma cidade-aldeia de pouco mais de 200 mil habitantes e de um estádio (Juvenal Lamartine), modesto e desconfortável.
Em 1972, com a construção do assassinado Estádio Castelo Branco, o Castelão, Alberi pelo ABC participou do Campeonato Brasileiro da Divisão Principal, depois de dar um tricampeonato ao alvinegro. Seria tetra. Em 1970, início da epopeia, jogou com um rapaz magro e loiro, abusado nos avanços ao ataque. Mas tarde, seria chamado de Marinho Chagas, trocado por um saco de chuteiras do Riachuelo, seu primeiro time, com o ABC. Em 1971, Marinho Chagas estava no Náutico e no ano seguinte, no Botafogo (RJ).
Alberi ficou, dando as cartas na sua Pasárgada, Manuel Bandeira em versos de chuteiras. Não era amigo, mas o próprio rei, teve as mulheres que quis, na camas que desejou. Alberi foi Bola de Prata da Revista Placar e um jogo foi marcante. No dia 04 de outubro de 1972, 32 mil pessoas assistiram uma exibição sobrenatural de Alberi, contra o Flamengo do técnico da seleção brasileira, Zagallo, do tricampeão Paulo César Caju e do rebelde argentino e artilheiro Narciso Doval.
Ponta de lança autêntico, em caça ao gol, descadeirou os volantes Liminha e Zé Mário em cortes bruscos e freadas inesperadas no gramado. “Marca a esquerda do Negão”, berrava Zagallo. Alberi desferia um torpedo de direita. “Marca a direita desse monstro”, Alberi mandava um canhão de canhota na trave do goleiro Renato, da seleção brasileira.
Atuação decisiva para que Alberi ganhasse a Bola de Prata, o Oscar do Futebol Brasileiro, superando nomes do nível de Jairzinho, Dirceu Lopes e Tostão. Recebeu proposta do Fluminense. Casa com piscina, carro, mas ficou. A raiz afetiva chamava-se Natal e o palco, o Castelão.
Havia o tetracampeonato para vencer com Maranhão, Danilo, Libânio, Demolidor e Moraes. Havia a excursão para a Europa e África. Alberi encantou romenos e gregos. Todo de branco, o ABC cintilava como pequeno vestígio de um Santos desigual.
Alberi foi para o América em 1976. Em 1977, lá estava eu vendo-o ajudar o time rubro a conquistar o campeonato. Alberi fez um golaço em Carlos, da Ponte Preta e seleção brasileira, driblando Oscar e Polozzi, zaga que estaria na Copa da Argentina em jogo do Brasileirão. Vitória de 1×0. Rodou por vários clubes.
Seus companheiros paravam e ele resistia. Foram buscá-lo em Juazeiro do Norte (CE) para uma volta emocional ao ABC em 1981. Fez de pênalti, o gol do título do primeiro turno (1×1 com o América). Em Natal, sem blasfêmia, o Pelé é Alberi.
Pensava, criava, as companhias caíam de padrão, o fôlego diminuía. Em 1985, numa noite chuvosa e sem glória, deu adeus no túnel esquerdo do Castelão, vestindo a camisa 10 do ABC. Aos 74 anos, Alberi é um presente universal concedido ao Rio Grande do Norte.
FICHA TÉCNICA:
ABC 0x0 Flamengo
Data:04/10/1972
Árbitro: Romualdo Arppi Filho
Público pagante: 32.707
Local: Estádio Castelo Branco(Natal – RN)
ABC: Tião; Sabará, Edson, Nilson Andrade e Rildo(jogou Copa 1966); Maranhão e Danilo Menezes(dupla titular do Vasco anos 1960); Libânio, Alberi, Petinha(Everaldo) e Soares. Técnico: Célio de Souza(revelador de vários craques);
Flamengo: Renato; Moreira, Chiquinho Pastor, Tinho e Mineiro; Liminha e Zé Mário(Zanata); Vicentinho, Humberto, Doval e Paulo César Caju. Técnico: Zagallo.
Esse cara jogava porque sabia jogar. O meu maior ídolo desde que tinha 7 anos de idade. Parabéns Alberi, onde quer que esteja, nunca o esqueceremos, nunca encontraremos um jogador igual.