por André Luiz Pereira Nunes
É possível conceber um pequeno clube carioca atravessar o continente para enfrentar o poderoso Real Madrid, repleto de astros, em pleno Estádio Santiago Bernabéu, na Espanha, e ainda sair com a vitória? O cenário parece extraído de um filme, cujo roteiro é dos mais inacreditáveis. Todavia, o que parecia impossível se tornaria realidade.
Na terça, 4 de setembro, a Associação Atlética Portuguesa, do Rio de Janeiro, comemorou 51 anos de uma inesquecível vitória sobre o Real Madrid. A simpática Lusa da Ilha do Governador foi até a capital espanhola e, capitaneada por nomes como Zeca, Escurinho e Miguel, bateu a poderosa equipe merengue por 2 a 1 em um amistoso ocorrido em 1969.
Tratava-se do cotejo de entrega de faixas para a equipe, então tricampeã do Campeonato Espanhol em 1966/1967, 1967/1968 e 1968/1969. Sob o comando de Miguel Muñoz Mozún, os madridistas contavam com grandes estrelas em seu plantel, como o atacante Paco Gento e o zagueiro Sanchis. Mas os insulanos não se intimidaram nem um pouco. Em um jogo festivo com “pouco futebol e muitas piruetas”, conforme mencionado pela imprensa espanhola, os visitantes ganhariam por 2 a 1, com direito a dois tentos do ponta-direita Miguel.
A Portuguesa realizava uma excursão à Europa para uma série de amistosos. E, como parte dos compromissos, deveria enfrentar o Sevilla. Entretanto, o duelo acabaria cancelado por um motivo peculiar. À procura de um rival para realizar o jogo festivo de entrega das faixas, o Real Madrid ofereceria uma quantia maior ao time da Ilha do Governador, levando a melhor sobre os rivais sevilhanos. O histórico, inusitado e surpreendente triunfo rendeu aos vencedores um prêmio cinco vezes maior do que o anunciado anteriormente.
– O bicho da Portuguesa era de 10 dólares. O empresário nos deu 50 dólares. Ficamos malucos. Foi só alegria, samba, pagode e felicidade. Só felicidade – diria o zagueiro Zeca em uma entrevista ao canal Sportv, em 2014.
A vitória da Portuguesa começaria a ser desenhada logo na primeira etapa. Aos sete minutos, o atacante Miguel marcou o primeiro. Ao fim da etapa inicial, aos 42 minutos, o atleta repetiria o feito, assinalando o segundo para o time da Ilha do Governador, o qual sairia para o intervalo já vencendo por 2 a 0. No segundo tempo o Real Madrid partiria para cima em busca do empate, só conseguindo diminuir o marcador aos 45 minutos, com Planelles. Tarde demais para igualar o marcador. Melhor para os visitantes que derrotaram uma das maiores e mais prestigiadas agremiações esportivas do planeta diante de mais de 50 mil pessoas no histórico Santiago Bernabéu.
Dizem até que o ponta-esquerda Escurinho, o mesmo do Fluminense nas décadas de 50 e 60, foi um dos principais destaques daquele épico confronto. Ao final da partida, quando já se encontrava no vestiário, teria recebido uma sondagem de dirigentes da equipe merengue. Entretanto, a transação não ocorreria por conta da idade avançada do atleta, o qual já contava 39 anos.
Dispondo de mais de 130 jogos internacionais, a equipe carioca, cuja mascote se tornaria a zebra, também aprontaria ainda mais uma ousadia. Em 13 de agosto de 1976, em São Januário, viria a bater o Benfica por 3 a 1.
0 comentários