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O CORAÇÃO QUENTINHO DO PORTUGUÊS PALMEIRENSE

16 / dezembro / 2020

por Marcelo Mendez


A boca da noite faz o prenúncio de algo muito bom que está por vir.

Mesmo com a minha boemia em concordata, vivendo hoje um momento diferente em que os deliciosos pecados da noite já não mais fazem parte do meu viver, devo dizer que o sereno me faz falta. Os sons da noite, as possíveis paixões, os flertes e a expectativa de se viver na pele as bendições de quem se joga ao luar, são coisas que sempre carregarei comigo.

E entre essas coisas têm as noites de futebol também.

Lógico que em tempos pandêmicos se perde muita coisa. Não tendo o estádio, a ida até a cancha, sem o grito em favor do time e sem o berro nervoso contra o perna de pau da vez, o futebol fica um tanto quanto melancólico, mas se definiu que será esse o futebol possível de se ter e assim seguimos. Teve ontem à noite o Palmeiras.

O Palmeiras que recentemente se arvorou a ter arrotos de caviar, jogando na cara de todo mundo uma grandeza a partir de um contracheque alheio com o dinheiro de Dona Leila de Crefisa, teve nos últimos anos frequentes choques de realidade, amealhando derrotas e desclassificações seguidas que interromperam seus delírios de grandeza. A realidade bateu forte em Palestra Itália, se descobriu que o histórico técnico Vanderlei Luxemburgo já não mais poderia ser e depois de uma coleção de nãos recebidos por parte de sua fanfarrônica diretoria, eis que no caminho do Verde surgiu Abel Ferreira.

E diga-se:

Em sua “descoberta” não houve mérito algum por parte dessa direção. Nada se pesquisou, nada se planejou, tampouco eles sabiam da trajetória do jovem treinador Português. Foi um empresário que sugeriu a contratação e os cartolas de lá, sem outras opções, toparam a coisa. Daí vem a grande surpresa dos últimos anos no Palmeiras.

Abel Ferreira é o sopro de um novo tempo que ousa chegar em Palestra Itália.

O técnico chegou implantando novas metodologias de trabalho, recuperando jogadores execrados pela torcida como Roni, Zé Rafael, Scarpa, Lucas Lima, sugerindo um novo modelo de gestão definido junto com os jogadores que de imediato compraram a ideia do Professor. Ja são 20 gols marcados e nenhum sofrido em 9 jogos dentro da Arena. Mas o que mais me chama não são os números do time de Abel Ferreira. O que me enche os olhos é o seu entendimento do futebol a partir do viés humano.

“Quando se tem a mente aberta e o coração quentinho, fica tudo mais fácil”.

O Homem disse isso após o Palmeiras amassar o Libertad do Paraguai ontem, no 3×0 pela Libertadores. O Palmeiras está entre os quatro melhores times do continente e não é absurdo seus torcedores pensarem em algo maior pra essa competição. A vida será dura para o Verde, que luta em três frentes, decerto terá muita dificuldade, mas que tem chances nas três competições que disputa porque Abel Ferreira trouxe de volta para a Academia o direito de sonhar. O caminho bom.

Desde que os corações sigam quentinhos.

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