por Claudio Lovato
O veterano jornalista estava a passeio em Madri.
Mais faceiro que formiga em tampa de xarope, lá se ia o gaúcho de Taquara pelas ruas e vielas do centro madrilenho.
E dá-lhe Puerta del Sol, dá-lhe tapas, ô, Madri!
Até que surgiu no caminho uma loja de artigos esportivos. Uma baita loja. O jornalista entrou.
Camisas de todos os grandes da Europa. E de alguns médios. E de alguns pequenos também.
Curioso, o calejado repórter, que inspirou muita gente por onde passou, avançou, investigou, xeretou, e lá pelas tantas, lá no fundão, num canto com toda a cara de canto, ele viu as camisas do Vasco da Gama e do… Avaí.
De clubes brasileiros, apenas essas duas. E só.
Incapaz de resistir ao espanto e ao impulso, o experiente e sempre bravo homem de imprensa localizou o dono da loja.
Apresentou-se, saudou, foi saudado, riu, fez rir, e, por fim, perguntou, sem conseguir esconder o desconcerto que não parava de aumentar.
– A camisa do Vasco, tudo bem, eu entendi. O Vasco já foi campeão brasileiro, tem projeção internacional, coisa e tal, mas por que a do Avaí, a azul?
O espanhol olhou-o nos olhos. Ar reflexivo, parecia estar escolhendo as palavras, uma a uma. Por fim, respirou fundo, colocou as mãos para trás, pigarreou e então, num tom muito sério, muito reverencial, disse, com sua voz grave de comerciante do centro de Madri:
– Esta es la blusa del tenista, señor.
Texto dedicado ao jornalista Arthur Monteiro, mestre e amigo hoje radicado em Brasília, que me contou este episódio, do qual foi o protagonista.
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