por Claudio Lovato
O menino está sentado nos ombros do pai.
O pai está de pé, no primeiro degrau do anel inferior, e o menino olha para o campo, ouve o canto da torcida – coração disparado, olhos arregalados, a incapacidade de compreender tudo aquilo fazendo aumentar seu assombro.
É uma disputa por pênaltis. Instantes antes da última tentativa na série de cinco cobranças. Se o time do pai e do menino mandar a bola lá dentro será campeão. Senão, cobranças alternadas.
O pai fala alguma coisa para o menino, que só o menino ouve.
Há muito tempo, o pai do menino já esteve nos ombros de seu pai, naquela mesma situação. Ele faz agora com seu filho o que seu pai fez com ele, neste mesmo estádio, há muito tempo.
Mas ele, seu pai, o avô do menino que agora tem o coração aos galopes, nunca teve um pai que o colocasse nos ombros num estádio de futebol.
O pai do pai começou a ir aos estádios sozinho, por conta própria. No início, pulando muros, passando por buracos em cercas; depois, pulando catracas e então, mais tarde, pagando seu ingresso com o dinheiro suado dos primeiros empregos mixurucas, na companhia dos amigos.
O centroavante do time do pai e do menino corre para a bola.
A cabeça erguida.
O pé de apoio – o esquerdo – bem ao lado da bola, como deve ser.
O chute seco, rasteiro.
A bola rápida no canto.
O goleiro vencido.
A explosão da torcida.
A corrida dos jogadores em direção ao centroavante.
O time campeão.
O menino não resiste e chora nos ombros do pai, que pula e pula e pula, sendo agora o menino que nunca deixou de ser; naquele momento, pai e filho são dois meninos.
O pai do menino é um elo mágico, milagroso entre passado e presente, assim como o menino, seu filho, também será um dia.
Mas agora eles são apenas alegria, pura alegria.
Agora eles são dois espíritos em festa.
Na verdade, um só.
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