por Mauro Ferreira
Botequins guardam em silêncio e a sete chaves a doce e exclusiva ciência de reunir o improvável. Na tentativa também improvável de revelar esses segredos e entender sua relação com a bola, iniciamos a série esportiva/etílica/investigativa “Museu da Pelada no seu boteco preferido”. Através de rodadas e mais rodadas de chope, petiscos e resenhas, vamos passear pelo espaço da conversa fiada e afiada, da cornetada sacana, das comparações entre o melhor e o pior, do mais gostoso e o “nem tanto assim”; do bom e do ruim, do pereba e do “joga pra caralho”. E, se rolar um pandeiro, um cavaco e um tamborim, a hora de acabar a resenha será sempre a manhã do amanhã de um dia qualquer…
No primeiro episódio… BIGORRILHO
Sexta-feira, hora do almoço. A calçada em frente à Praça General Osório, no Leblon, reúne uma fauna diversa. Advogados, jornalistas, atores, publicitarios e jogadores de futebol discutem temas variados e da maior relevância para o futuro da nação.
“Quem era melhor: Calçada ou Eurico?” Paulo Reis advogado do Vasco nos tempos em que a Colina tremia, sentencia: “Eurico como vice de futebol, Calçada como presidente”. É a resposta salomônica própria dos causídicos.
Os temas se sucedem. Chega a vez de Moreira propor novo debate. Lateral do Botafogo, cabelo tratado na tintura para disfarçar a idade, dispara: “Zico ou Fio Maravilha?” Sentado em um banquinho de barril de chope em volta de uma mesa de caixotes de cerveja, Carlos Alberto Pintinho reage indignado: “Moreira, cê tá de sacanagem, né?” Carlos Roberto, Acácio e Nielsen acompanham a indignação de Pintinho. “Oh, senhor Deus, perdoa. Ele não sabe o que diz”, reforça Carlos Roberto.
Por traz dos óculos de grau, Romulo, dono do Bigorrilho, boteco raiz cravado no número 814 da Ataulfo de Paiva, sorri como um menino. Homem criado entre os gráficos do mercado financeiro, resolveu comprar o estabelecimento para não ter que enfrentar outro gráfico: o eletrocardiograma de seu cardiologista. “Isso aqui não é um negócio. É minha terapia. Me salvou. Eu ia morrer se continuasse na bolsa”.
A resenha não para. Seis da tarde, e chegam mais e mais frequentadores ilustres . David Pinheiro, o Sambarilove da Escolinha do Professor Raimundo, se junta à turma. Vira tiete, pede foto, autógrafo, e entra no debate munido de um copo de uísque “on the rocks”: “Preciso deixar a mente leve. A turma aqui tem conhecimento”.
Os temas se sucedem. Risos, gargalhadas, causos, discussões. No calçadão da Ataulfo, o Bigorrilho brilha em luz verde. Todos os dias. Mas, na sexta-feira… na sexta, na hora do almoço, a luz é bem mais intensa.
E é só chegar. O Romulo recebe com sorriso de menino levado e feliz estampado no rosto.
Já vou lá conhecer o Boteco e escutar de perto todas essas resenhas.