por Marcelo Mendez
As eliminatórias de 1981 haviam acontecido sem maiores sobressaltos.
Em um grupo com Venezuela e Bolívia, o Brasil passou vencendo todo mundo na ida e na volta, com direito a goleada de 5×0 nos Venezuelanos. Em 1981, isso era uma obrigação e como sempre, achávamos que poderia ter sido mais.
Na nossa vida, a novidade era o Nacional do Parque Novo Oratório.
Com o Esquerdinha à frente da coisa toda, a gente formou um baita time de bola; Pena, Leitão, Baianinho, Camarão e Rubinho na zaga. No meio tinha Batata, Pedrinho e Eu. O ataque, nosso poderoso ataque, tinha Regê, Carlão e Lidú.
Treinando aos sábados de manhã, para jogar no domingo, antes do time principal, a gente foi se conhecendo, se entendendo e então, mais uma turma surgia na minha vida. Com os caras do Nacional, comecei a jogar futebol de campo e o nosso time tinha estreado no campeonato da categoria mirim em Santo André.
Nos três primeiros jogos, goleamos geral. Santo Alberto, Vila Alice e time do Clube de Campo de Santo André, metemos gol a dar com pau. O barato no Parque Novo Oratório, começou a ser, acordar cedo, para ver o mirim do Nacional jogar.
E com a beira do campo lotada, a gente voava. Depois do jogo, sempre tinha a nossa resenha, movida a tubaína de garrafa e um lanchão de mortadela.
O assunto era sempre a Seleção que jogaria a Copa de 1982:
– Rapaz, agora vai ter a excursão para Europa, ceis viram? – perguntou o Baianinho, zagueiro firme, ligeiro:
– Sim. Vai ser foda, hein? Vamos pegar Inglaterra, França e Alemanha…
– Ah se liga, Pedrinho. Time tá bom, passou voando pelas eliminatórias.
– Eliminatória o que, Batata? Jogou contra quem? Agora a parada é outra! – alertou o Rubinho
– Ô Marcelo… Cê tá quieto por quê? Fala pra Caralho e nem no jogo reclamou! Que foi? Tá doente? – me perguntou o Batata.
– Não sei, tô meio estranho. Acho que vou pra casa. Falou aí…
– Num vai nem comer o lanche?
– Não, pode comer, Camarão. To indo embora!
Na hora, O Carlão e o Pedrinho, amigos da Rua Tanger, vieram comigo. Eu não conseguia entender o que eu tinha, minha cabeça doía muito, o corpo começava a doer, tinha um pouco de enjôo e quase que Carlão teve que me carregar. Cheguei em casa e encontrei minha mãe preparando os salgados que venderíamos de tarde. Quando me viu, arregalou o olho e falou:
– Você ta branco! Que aconteceu com ele, Carlos?
– Não sei, Dona Claudete. A gente jogou, ele tava bom, depois começou ficar estranho. Eu e o Pedrinho trouxemos ele!
Na hora, minha mãe correu até a casa da Angélica. Em 1981, na Rua Tanger toda, o único telefone que tinha era o dela. Ligou pra o lugar onde meu pai estava fazendo uns trabalhos temporários, avisou a ele que me levaria para o Hospital, recomendou que por lá ele nos encontrasse.
Pouco depois, chegou o carro do vizinho, o Tecí, uma Brasilia nova, que nos levou até o Hospital Santo André, na Avenida Dom Pedro, centro de Santo André. Quando chegamos, meu corpo todo mole, minha mãe preocupada, Teci me levou no colo até o PS quando eu já estava em vias de apagar. O clinico de plantão, me recebeu, me medicou e recomendou internação imediata.
O diagnóstico chegou alguns minutos depois:
– Encefalite!
…
Eu não sabia o que era Encefalite, mas a julgar pelos rostos ali a me olhar, deduzi que devia ser algo muito ruim.
Tomei uma injeção com uma agulha enorme no meio das costas, depois tomei uns comprimidos que me deram e, em breve, as dores foram diminuindo. A situação toda parecia preocupante, mudaria minha vida e eu não saberia o que viria pela frente.
Mas ali, quando meu pai chegou para nos encontrar, perguntei a ele a única coisa que me interessava ali:
– Pai, como eu vou ver os jogos do Brasil?
Com uma cara muito preocupada e aflita, meu Pai não soube me responder. Depois disso, fui levado de cadeira de rodas para CTI do Hospital e nem meu pai, nem minha mãe puderam ir comigo.
Passada aquela porta, entrando naquele lugar irritantemente branco, comecei a primeira grande luta da minha vida, mas não sabia disso.
Naquele momento, eu só queria saber como faria para ver os jogos do Brasil, na Europa…
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