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NO ESPORTE, EMOÇÃO É MAIS IMPORTANTE QUE JUSTIÇA

30 / agosto / 2020

por Wilker Bento


Pierluigi Collina é considerado o maior árbitro de todos os tempos. O italiano apitou a final da Champions League de 1999 e da Copa do Mundo de 2002, entre outros jogos importantes. É o único juiz que já foi garoto-propaganda de um jogo de videogame, o Pro Evolution Soccer 4. Sua careca inconfundível tornou-se um ícone.

Em 2006, perguntado em uma entrevista sobre os segredos de um bom juiz de futebol, Collina afirmou: “O árbitro não pode ser sábio. Deve ser impulsivo. Deve decidir em três décimos de segundo”.

Pouco mais de uma década após a aposentadoria de Collina, parece que esse princípio básico foi esquecido. O árbitro de vídeo transforma uma simples decisão em uma odisseia interminável. E a troco de quê? As polêmicas continuam, as suspeitas em relação a idoneidade do processo só crescem e falhas ocasionais continuam ocorrendo, pois o VAR é um instrumento e a decisão sobre os lances é sempre tomada por seres humanos. E humanos, naturalmente, erram.

Até agora, o único legado do VAR para o esporte bretão têm sido transformar partidas ruins em intragáveis. Com o nível técnico do futebol brasileiro lá embaixo e os estádios silenciosos por causa da pandemia, o árbitro de vídeo é a última pá de cal em um esporte outrora emocionante. Porque, afinal, o torcedor não tem mais o direito de comemorar em paz o momento mais importante: o gol.

A frustração de comemorar um gol e depois perceber que não valeu é algo que sempre existiu. Muitas vezes vimos jogadores gritarem, tirarem a camisa, irem pra galera, e depois saberem que estavam em impedimento. Acontece.

Mas o VAR inventou o contrário: o gol sair e, mesmo assim, todo mundo ter que ficar esperando a confirmação do árbitro, espera essa que não raramente se estende por minutos. É brochante, um balde de água fria.

Lógico, sempre vamos lembrar do título que o nosso time poderia ter ganho em 1900 e chacrinha se o VAR existisse na época e o árbitro da ocasião pudesse ver o lance várias vezes. Mas todo time também já foi ajudado por erros de arbitragem, e essa possibilidade de ganhar ou perder um campeonato de forma suspeita nunca atrapalhou nossa paixão pelo futebol.

Isso porque é a emoção que torna o esporte apaixonante, e não a justiça. Embora o futebol envolva muito dinheiro e investimento dos profissionais, é no fundo uma grande brincadeira que precisa ser divertida para existir. Ninguém vai pegar prisão perpétua ou pena de morte se um juiz tomar uma decisão errada, diferente do que acontece num tribunal de justiça comum. Estamos falando da coisa mais importante entre as menos importantes.

Por isso, discussões a respeito de mudanças nas regras do futebol devem levar em conta a emoção que move a paixão do torcedor. Não basta simplesmente ser justo – e já deu para perceber que o VAR não será o responsável pela implementação dessa justiça nem pelo fim das polêmicas.

A tecnologia é bem-vinda, mas precisa ser bem aplicada para a realidade de cada esporte. O futebol tem uma dinâmica própria, assim como o vôlei, o basquete, o boxe, etc. Se a política do árbitro de vídeo não for repensada, o resultado será um futebol moribundo e sem graça.

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