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NAS ONDAS DO RÁDIO

21 / outubro / 2016

por Victor Kingma

Meu gosto pelo velho e bom esporte bretão começou muito cedo, quando eu tinha cino ou seis anos, lá pelo final dos anos 50. A influência maior foi da minha tinha Luquinha que, contrariando os hábitos das moças da época, gostava muito de futebol. Foi ela, inclusive, quem me fez torcer pelo Flamengo, paixão incontrolável que me acompanha por toda a vida.

Nas tardes de domingo ou nas noites frias de Mantiqueira, um pedacinho das Minas Gerais onde nasci e fui criado, o que eu mais gostava de fazer era ouvir as transmissões esportivas com os tradicionais narradores da época. Meus ídolos eram Waldir Amaral e Jorge Curi e eu gostava de imitá-los narrando os gols de Dida e Babá, pelo Flamengo, ou Pelé e Vavá, pela Seleção. Entretanto, gostava também dos outros narradores e sempre ouvia os jogos pela frequência que o nosso velho e chiador rádio Zenith sintonizasse primeiro. 


 Um dos primeiros jogos que escutei pelo rádio foi a partida semifinal da Copa de 1958 entre Brasil x França, realizado em 24/06/1958, no estádio Rasunda, em Estocolmo, na Suécia.  Naquela época, minha família morava num enorme casarão, a centenária Fazenda da Sotéria, em Mantiqueira. No dia do jogo nossa casa estava cheia de gente, entre amigos e parentes,  pois éramos dos poucos que tinham rádio na região. Interessante é que o que mais me marcou nesse jogo não foi a sensacional vitória do Brasil por 5 x 2 diante da poderosa seleção da França, de Fontaine e Kopa, mas uma situação muito divertida que aconteceu naquele dia e da qual nunca esqueci:   

 O Brasil vencia o jogo com uma atuação de gala. Logo no início do jogo, Vavá abriu o marcador, mas Just Fontaine empatou para a França pouco depois, marcando um de seus treze gols numa mesma Copa, recorde nunca mais superado. Ainda no primeiro tempo, Didi, com sua famosa folha seca, colocou o Brasil em vantagem. No segundo tempo então foi um show de bola. Pelé, numa de suas melhores exibições com a camisa da seleção, marcaria por três vezes, elevando o placar para 5 x 1. Fazíamos a maior algazarra lá na fazenda e cada gol era uma festa. Até meu pai, que não acompanhava muito futebol e só gostava do Garrincha,  estava eufórico. Todo mundo aguardava o fim do jogo para iniciarmos o foguetório pela vitória, como vinhamos fazendo desde o início da Copa.


A transmissão estava bastante inaudível naquele dia nublado e o narrador, se não me engano, era Pedro Luiz, da Rádio Bandeirantes, outro monstro da narração esportiva.   

 O jogo estava quase no fim e ninguém mais escutava direito a transmissão devido aos ruídos, quando alguém gritou: gooool!!! 

 Não deu mais para segurar a euforia. Saímos todos para o terreiro da fazenda e gastamos antecipadamente todo o estoque de foguetes.  Só que o goltinhasidoda França.  O autor, nunca esqueci: Piantoni. Logo depois o jogo acabou. Mas os foguetes também…     

 Não fosse umasprovidenciais bombas cabeça de nêgo compradasàs pressas na venda de seu Olegário,  a   molecada,  dentre as quais eu me incluía, ficaria frustrada pela falta dos fogos na comemoração que se seguiu, regada a vinho Moscatel  para os adultos e guaraná Pérola para a criançada.

 Poucos dias depois, em 29/06/1958, em outra exibição memorável, o Brasil venceria a Suécia também por 5 x 2 e se tornaria, pela primeira vez, campeão mundial de futebol.  E foi uma festa maior ainda lá na fazenda da Sotéria, já com o estoque de foguetes renovados.

 Como bom boleiro, claro que já assisti ou ouvi tantos jogos memoráveis do escrete nacional, entretanto, aquela partida na semifinal, pelasituação inusitadae que tanto marcou minha infância,  ainda hoje, passados mais de cinquenta anos, ainda guardo na lembrança.

Foimeu jogo inesquecível da seleção!

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