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“NÃO SOMOS MODINHA: MULHERES ENTENDEM DE FUTEBOL E GOSTAM DE TORCER”

13 / setembro / 2024

Fundadora da Nação Empoderada, Monalisa Matos conta como a torcida do Fla formada só mulheres impõe-se ao machismo e à violência renitentes

por Gabriella Pereira, Luísa Fernandez e Manoelle Monteiro

Cansada de ir sozinha aos jogos do Flamengo, Monalisa Oliveira Matos convidou seguidoras do Instagram para acompanhá-la. A empreitada deu tão certo que se desdobrou numa torcida organizada. “Também entendemos de futebol, também gostamos de torcer, e por isso estamos ali na arquibancada”, enfatiza a fundadora da Nação Empoderada. Desde 2018, dezenas de rubro-negras transformam a torcida formada só por mulheres num movimento contra o machismo, o assédio, e demais violências sofridas no ambiente esportivo. Monalisa conta, num papo descontraído, como iniciativas assim ajudar a incrementar a participação feminina no futebol e em outras modalidades.

Como nasceu a ideia de fundar uma torcida só de mulheres?

 A Nação Empoderada surgiu em maio de 2018, logo após eu conhecer duas outras torcedoras num evento de despedida do goleiro Júlio César, na Barra. Ao conversarmos, percebemos algo em comum: às vezes, deixávamos de ir a alguns jogos por sermos mulheres e estarmos sozinhas. Desde então, viramos três. Depois de irmos ao estádio juntas, tive a ideia de criar um grupo com mais meninas. Postei no Instagram e fui chamando meninas que me seguiam. Reunimos uma quantidade grande de torcedoras antes da pandemia. O intuito era juntar o máximo de mulheres que tinham medo ou que não tinham companhia para ir aos jogos do Flamengo. Há integrantes até fora do Rio.  

Quantas participam hoje?

Somos 63 mulheres, atualmente. Mas já tivemos muito mais antes da pandemia, como eu disse. Depois, algumas engravidaram, outras casaram, outras se mudaram para outro estado.  Isso diminuiu a quantidade de participantes no nosso movimento. Além do mais, como o preço dos ingressos subiu, muitas deixaram de ir ao estádio.

Como funciona a organização?

Sou a presidente, responsável por tudo, mas divido a administração com duas partticpantes. Uma responde pelas redes sociais. A outra se encarrega de prestar informações e esclaracer dúvidas sobre o grupo responsável. Eu idealizo os projetos que serão feitos. Penso em retomar, ainda neste ano, ações sociais como doação de alimentos e de roupa. Elas sempre foram o nosso forte, desde o começo. Vamos retomá-las, o que nos une mais.

Qual a importância dessa organizada para a participação feminina no esporte?

A importância da Nação Empoderada sempre foi motivar o público feminino a frequentar a arquibancada e outros eventos que envolvam o Flamengo, inclusive além do futebol. Hoje vemos a arquibancada cheia para acompanhar o vôlei feminino, por exemplo. Esperamos que isso aconteça com o futebol feminino. A nossa ideia também é acompanhar, apoiar, as modalidades femininas. Muitas vezes, é de graça.

Como é a relação com o machismo na arquibancada?

Até que sofremos pouco com o machsimo na arquibancada. Falo por nós do grupo. Sempre fomos fortes, sempre editamos as canções que estavam ali na hora do jogo (para extrair trechos machistas). Sempre mostramos que a gente está ali para torcer pelo nosso time, sem nenhum outro propósito. Os homens têm que entender que mulheres também gostam do futebol. Gostam dos esportes, gostam de empurrar o time, e por isso estamos ali. Não somos, como já falaram,  “modinha”. Também entendemos de futebol.

Quais atitudes devem ser tomadas para combater o machismo?

Nós, mulheres empoderadas, estamos sempre dispostas a quebrar esse ciclo de machismo. Temos sempre mostrar, para os homens, que estamos ali também, no poder. Por exemplo, a [presidente do Palmeiras] Leila Pereira, hoje na CBF (chefe de delegação), mostra o posicionamento que nós mulheres temos no futebol. Ela fala por nós. A importância dela é enorme. A quebra do machismo no esporte, principalmente no futebol, se dará quando tivermos mais mulheres em posições altas, em posições nas quais os homens precisam nos respeitar. Assim, vão ver que somos iguais.

Que dificuldade é enfrentada pela torcida feminina além do machismo?

A única coisa que a gente enfrenta, além do machismo, é a falta de segurança. Ainda é muito difícil ser mulher e ir para um jogo de futebol sozinha, especialmente num clássico. Às vezes, um bando de meninos aborda agressivamente a torcedora no meio da rua: quer a camisa dela, quer agredi-la. Por isso, a gente procura ir em grupos ao estádio, agrupando meninas da mesma região. A gente nunca deixou nenhuma torcedora sozinha. Procuramos proteger nossa integridade física.

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1 Comentário

  1. Tadeu cunha

    Cara Monalisa parabéns pela coragem e resiliência, o futebol é das mulheres tbm,basta vermos o resultado da nossa seleção feminina nas olimpíadas.

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