Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO

5 / julho / 2024

por Claudio Lovato Filho

(Crédito da foto: Divulgação/Acervo CBF)

Eu fazia o 2º ano científico no Instituto Educacional São José, na Avenida Alberto Bins, centrão de Porto Alegre. Naquele 5 de julho de 1982, a saída do colégio foi diferente: rápida, sem bate-papos na calçada. Percorri o trajeto de sempre com o passo apertado como nunca: Alberto Bins, Coronel Vicente, Independência, Santa Casa, João Pessoa, República até, enfim, chegar à Sofia Veloso, edifício Corinto. Do centro para a Cidade Baixa em alguns minutos, com a cabeça na Espanha. A comida já estava pronta, foi só fazer o prato e acomodá-lo sobre o banquinho, em frente à TV, na sala. À direita, o janelão deixando ver, ao fundo, sob um céu de poucas nuvens, o Guaíba. Era um dia bonito de inverno. Então aconteceu. O Brasil em campo mais uma vez. Aquele time. Que time. E deu no que deu. O empate nos bastava, mas aquele time jamais jogaria para empatar. Perdemos, fomos eliminados, mas não da memória, não dos corações. Foi lindo, meus amigos. Foi puro encantamento enquanto durou. “Enquanto durou”? Não. Dura até hoje. A magia permanece. Vida que segue; assim é, assim sempre será, e, menos de um ano e meio depois desse doloroso 5 de julho de 1982, tive aquela que é, até hoje, a minha maior alegria no futebol: a conquista do campeonato mundial de clubes pelo meu Grêmio, em 11 de dezembro de 1983, em Tóquio. A vida seguindo, bela que só ela. O São José não existe mais, virou centro de convenções do Hotel Plaza San Rafael, que fica do outro lado da Alberto Bins. O apartamento da Sofia Veloso há muito deixou de pertencer à família, e eu saí de Porto Alegre há 36 anos para atender aos chamados do trabalho e cair no mundo. O futebol, no entanto, prossegue garantindo que (lembrando Neruda) o menino que eu fui continua vivo dentro de mim, porque temos um trato indissolúvel.

TAGS:

1 Comentário

  1. Pedro Mayall

    Eu me lembro bem desse dia bonito de inverno, 1982. Era aluno do 2º ano científico também, morava na aprazível Cabo Frio. Depois do jogo saí de casa andando à esmo. A cidade estava vazia e o silêncio era absoluto. Na Praia do Forte, me sentei no meio-fio e fiquei observando o mar azul. Um pescador solitário jogava a sua tarrafa, indiferente a tudo, e não havia mais ninguém ali. Um amigo apareceu e sentou ao meu lado. Trocamos olhares, mas nenhuma palavra. Não havia nada a dizer e cada um seguiu seu rumo. Estávamos em estado de choque, a cidade, o país inteiro, o mundo. Como era possível aquele time perder? Acho que até hoje não superei a tristeza daquele dia.

    Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *