MUSEU EM PAQUETÁ
entrevista e texto: Sergio Pugliese | fotos e vídeo: Daniel Planel
Algumas duplas do futebol brasileiro são símbolos de uma amizade admirável. Altair e Jair Marinho e Adílio e Júlio César Uri Geller são dois ótimos exemplos desse elo indestrutível. São histórias que a vida uniu, a bola solidificou e o tempo eternizará. Adoro essas demonstrações de amor que ultrapassam as quatro linhas e seguem juntas para o infinito e além! É o que ocorre com Afonsinho e Nei Conceição, ídolos que me comovem por saberem se posicionar dentro e fora de campo.
Nunca entendi porque pessoas que têm opiniões próprias e brigam por seus direitos são taxadas de rebeldes. Afonsinho formou-se em Medicina e Nei Conceição lia Trótski, organizador do Exército Vermelho. Nei trocou um belo contrato no Palmeiras porque preferia ficar no Rio jogando bola com os Novos Baianos, nos dias de folga.
Cabeludos, causavam a ira dos dirigentes, mas não abaixavam a cabeça. Afonsinho negou-se a cortar a juba e a raspar a barba e foi encostado por oito meses no Botafogo. Pediu liberação do passe, mas negaram. Então, conversou com o pai, um ex-ferroviário formado em Direito. Queria trabalhar! Recorreram ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva e após uma longa batalha Afonsinho foi o primeiro atleta brasileiro a ter o passe livre, em 1971, direito instituído 27 anos depois. Por conta disso, passou a ser monitorado pelos militares, mas só queria saber de jogar bola e divertir-se com o parceiro Nei Conceição.
Eu e a equipe do Museu da Pelada estivemos com eles, em Paquetá, uma espécie de quartel-general da dupla. Ali, no Clube Municipal, ainda reúnem amigos para jogar pelo Trem da Alegria, time de pelada criado por Afonsinho, há mais de 40 anos, para manter em atividade jogadores sem contrato e craques aposentados. “
– Os jogadores sempre foram escravos de dirigentes e empresários! – lamenta.
O Trem da Alegria é itinerante é já abrigou nomes como Nilton Santos e Garrincha. Em tempos de ditadura, os craques viajaram o país de megafone em punho, mas conquistaram a Lei do Passe Livre, um marco na carreira dos atletas. O Trem da Alegria não é apenas um time, mas um grito de liberdade!
Ali, entre os dois ídolos, não conseguia enxergar rebeldia em nenhum deles, mas coerência e pureza, muita pureza. Quando os dois vestiram a camisa do Museu da Pelada e Marcos Tristão, Guillermo Planel e Daniel Planel registraram a cena foi emoção demais!!! Pedi para descer mais uma rodada, duas, três! Perdemos várias barcas e o parceiro do Museu, Marco Narvaez, chegou a pensar em pernoitar por lá mesmo. Mas fomos embora! Na barca, a equipe lembrava cada momento daquele dia mágico, principalmente da frase de Nei: ]
– Vestimos a camisa porque vocês correm conosco!
Haja coração!!!
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