por Rubens Lemos
Entre 30 de dezembro de 1980 e 10 de janeiro de 1981, a FIFA reuniu as seleções campeãs do mundo e a Holanda vice nas Copas de 1974 e 1978 para o Mundialito do Uruguai. Celebração dos cinquenta anos do primeiro mundial. A Inglaterra, que fundou o futebol e assaltou a Alemanha Ocidental para conquistar sua taça em 1966, esnobou o torneio.
No grupo encabeçado pelos donos da casa, Uruguai, Itália e Holanda. Na outra chave, brindada com o clichê da morte como limite do equilíbrio, Argentina, Alemanha Ocidental e o Brasil de Telê Santana, ainda desacreditado em casa pelos resultados normalíssimos em 1980.
O Uruguai preparou tudo para repetir 1930 e dedicou-se com a velha garra e a categoria de pelo menos três craques , a seguir, famosos no Brasil: o goleiro Rodolfo Rodriguez, muralha no Santos, o capitão e caudilho Hugo De Leon, campeão do mundo pelo Grêmio em 1983 e o elegante meia canhoto Ruben Paz, ídolo no Internacional(RS).
A Argentina desceu em Montevidéu vitoriosa por antecipação. Maradona estava fulgurante no Boca Juniors, magia em cada toque curto, lançamento, drible de tango e gols de monumento.
Com Rummenige, Hansi Müller, Allofs e Fischer, a Alemanha Ocidental, campeã da Europa, assustava pelo seu porte marcial e seu estilo pragmático, tático de guerra. Favorita tanto quanto a Argentina.
O Brasil de Telê Santana viajou desacreditado e sem três estrelas: Zico, Reinaldo e Falcão. Dois machucados e o outro não liberado pela Roma(ITA).
Sócrates era ilhéu de genialidade. Ainda não havia sinais de Leandro florescendo e a camisa 2 pertencia ao troncudo Edevaldo, revelado pelo Fluminense e apelidado com sutileza de Cavalo.
Há quatro décadas , a teimosia de Telê Santana causava úlceras e urticárias. No gol, os convocados foram Carlos, da Ponte Preta e o razoável João Leite, do Atlético Mineiro, que acabaria jogando as duas partidas decisivas.
Perguntado por Leão, melhor disparado do país, Telê disse que só o chamaria para ser titular e os seus prediletos pela ordem eram Carlos, João Leite, Marola do Santos e Valdir Peres.
Com duas vitórias de 2×0, tranquilas, o Uruguai classificou-se para a final(apenas o vencedor do grupo passava de fase). A Argentina venceu de virada a Alemanha em partida épica por 2×1 e, se ganhasse do Brasil, repetiria a decisão da Copa de 1930.
Maradona deu um drible indecoroso no zagueiro Oscar e fez 1×0, ensaiando um olé que deixou o Brasil de sangue quente. Raça havia apenas no volante Batista. O mamulengo Cerezo rodopiava improdutivo.
Um canhão do lateral Edevaldo decretou o empate brasileiro(1×1) contra a Argentina, que esperaria o resultado de Brasil versus Alemanha Ocidental. Os alemães fizeram 1×0 com Allofs, o que obrigava o Brasil a vencer por dois gols de vantagem.
O time de Telê Santana era especialista em desenhar esperanças que, no painel da bola, culminavam em frustrações. Em exibição irretocável, o Brasil ganhou de 4×1, gols de Júnior, Cerezo, Serginho Chulapa e do driblador Zé Sérgio, então no máximo da forma.
O país precisava da vitória para ser o de sempre: um crédulo gigante. Naquele veraneio ensolarado, samba e festejos de vingança ainda pela nunca digerida derrota da Copa de 1950 para os uruguaios no Maracanã. Venceríamos no Estádio Nacional “para dar o troco”. O Uruguai não precisou de maiores esforços para ser campeão. Ganhou de 2×1.
Ali, com Serginho Chulapa agredindo a bola e João Leite de Valdir Peres antecipado nas falhas bizarras, a seleção de Telê sinalizava o que desabaria um ano depois contra a Itália na Copa do Mundo: era um time que encantava para depois fazer chorar.
PS. Brasil perdeu com João Leite; Edevaldo, Oscar, Luisinho e Júnior; Batista, Cerezo e Tita(Serginho Chulapa); Paulo Isidoro, Sócrates e Zé Sérgio(Eder). Apenas João Leite, Tita e Zé Sérgio não foram à Copa do Mundo de 1982.
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