por Victor Kingma
Naquele domingo estava prevista uma grande festa na pacata cidade de Jacutinga do Norte. Seria finalmente inaugurado o estádio local, antigo sonho dos moradores do lugar.
Até a acirrada rivalidade entre os dois principais times locais, o Jacutinga e o Barro Preto foi esquecida.
Um selecionado com os melhores jogadores da região foi formado para enfrentar o time misto, de um grande clube da capital.
Agustín, o Morcego, com 1,98m de altura e 130 kg de peso, era o torcedor mais conhecido do Jacutinga. Já se tornara uma figura folclórica do lugarejo.
Bandeira na mão, sempre era o primeiro a chegar para assistir aos jogos.
Entretanto, sua presença nos campos sempre foi motivo de preocupação.
Tudo por causa de uma particularidade: ficava possesso quando o chamavam ou insinuavam alguma coisa que lembrasse o apelido – que abominava.
Muitas foram as confusões que se meteu com as torcidas adversárias, principalmente nos dias do famoso clássico “Jacu Preto” , acirrado prélio entre Jacutinga x Barro Preto.
Nesses dias, para provocá-lo, a torcida rival costumava entoar bem alto o coro: Morcego! Morcego!
Ele, enfurecido, saia quebrando tudo. Às vezes nem a polícia conseguia detê-lo.
Agustín não batia bem das bolas e só uma coisa o fazia esquecer um pouco do futebol: a paixão que tinha por revistas em quadrinhos.
Com os gibis, desligava-se de tudo. Virava uma criança e ficava horas lendo, dócil e calmo.
E chega o grande dia! Com o palanque cheio de autoridades, tudo era só alegria.
Entretanto, a presença do problemático torcedor no novo estádio deixava apreensivos os organizadores, o prefeito e até o vigário local.
Apesar de ser uma partida festiva, e se algum agitador, de oposição ao prefeito, o chamasse pelo apelido? – Seria o caos!
Um desses puxa-sacos de palanque, resolve, então, agir: chama o filho e o manda dar uma revistinha qualquer para distrair e acalmar o bravo Agustin.
Diz pra ele que é presente do prefeito! – Recomenda o bajulador.
Tudo parecia resolvido.
Após os discursos e da cerimônia de inauguração, a bola rola em clima de festa…
De repente um tremendo tumulto!
Agustin Morcego, mais furibundo que nunca, salta o alambrado, invade a cancha e se dirige aos berros em direção ao palanque das autoridades. E vai derrubando tudo pelo caminho…
Todos tentam segurá-lo. Balburdia geral! Corre-corre.
Ao ver o sorriso irônico do filho ao seu lado, desconfiado, o puxa-saco pergunta:
– Menino, você fez o que lhe pedi?
– Claro, pai! Dei um gibi pra ele e falei que era presente do prefeito…
– Qual gibi?
E o Juquinha com um riso sacana:
– BAT MAN!!!
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