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MEU CLÁSSICO INESQUECÍVEL

26 / março / 2021

A maior parte dos gloriosos 123 anos Vascaínos, foi e é vivida de perto pelo querido amigo Ulisses Lopes. Debutou no estádio em 1936 e nunca mais se afastou do clube amado.

A primeira vez que Flamengo e Vasco se enfrentaram em terra foi em 1922, e dos 411 jogos realizados até então, Seu Ulisses perdera apenas 30. Quando alguém com esse currículo diz que o maior Vasco X Flamengo em sua opinião foi o de 1949, quem sou é para discordar?

Uma noite felicíssima ao Vasco e muito triste para o Flamengo, menos pela derrota e mais pela injustiça ao super craque Jair da Rosa Pinto.

O texto que segue é carregado de amor ao Vasco e pimenta ao Mengo.  Aos torcedores do Flamengo como eu, se preparem são cenas fortes. Aos torcedores do Gigante da Colina, desfrutem! (novamente…)

por Ulisses Lopes


Time do Vasco naquele dia. Em pé: Eli, Jorge, Augusto, Danilo, Barbosa e Sampaio. Agachados: Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Mário.

1949

Vasco 5 x 2 Flamengo

“É a única desgraça que levo 

porque fui campeão de tudo.

Só faltou uma Copa do Mundo.”

Jair da Rosa Pinto 

(Falando da Copa de 50)

O Vasco é que aniversariava naquele 21 de agosto de 1949 e eu é que fui presenteado. Nos meus oitenta e tantos anos de torcedor a Cruz de Malta me proporcionou muitas alegrias, mas nunca como naquela tarde.

Não havíamos conquistado nenhum título, apenas tínhamos aplicado mais uma goleada no Flamengo. O que então acontecera de especial, se eles não nos venciam há cinco anos e o chocolate já se tornara rotina? É que, cansados de perder, a Gávea inteira se mobilizara para quebrar a escrita.

Durante toda a semana, a imprensa esportiva vestira vermelho e preto conferindo ao Flamengo a condição de favorito. A euforia era tanta que o técnico Kanela, numa entrevista, chegou a garantir que venceriam ainda no primeiro tempo. Delirava!

Time para vencer ele tinha, mas para garantir a vitória, e ainda de véspera, não. Além de Jair da Rosa Pinto, que havia levado do Vasco, Kanela contava com um grande goleiro o paraguaio Garcia, tinha o fantástico Zizinho, Jaime, Modesto Bria e o bom ponteiro Esquerdinha (meu antigo colega de colégio).


O goleiro Garcia não alcança o chute de Maneca, aos 27 do primeiro tempo. Gol do Vasco

 Assim que a bola rolou parecia que o sonho de Kanela iria se realizar. Com menos de um minuto Augusto marcou contra e nove minutos depois levamos o segundo. Logo em seguida, num lance inacreditável, Jair perdeu o que seria o terceiro gol, com o qual acreditavam matar o jogo.

 Porém, ao término do primeiro tempo o placar já apontava dois a dois e com três gols na segunda etapa, o Vasco fechou mais uma goleada. Para empulhar a torcida, diante de toda a papagaiada que haviam feito durante a semana, escolheram Jair pra Judas. Queimaram sua camisa e mandaram-no embora da Gávea.

Jair não merecia tamanha injustiça. Vencer o Vasco de 1949 era coisa admissível só na teoria. Campeão invicto naquele ano, cedeu apenas dois empates em vinte jogos. Ganhou dezoito. Marcou oitenta e quatro gols, uma média superior a quatro por partida e teve em Ademir o artilheiro do campeonato com trinta e um gols marcados.

Contra um time desses, como acreditar que aquele gol perdido na metade do primeiro tempo, se convertido, pudesse selar a sorte da partida? Quando o inglês Mc Pherson deu o apito final, o gramado foi tomado pelos torcedores e permaneceria assim por muito tempo.


O golaço de Nestor, aos 16 minutos do segundo tempo!

Foi a única vez que pisei a grama de São Januário. Mal contendo a emoção de estar ali, pus-me a esquadrinhar o campo, palmo a palmo. Revivendo um lance em cada pedacinho do gramado, insinuei-me num replay de fantasia.

 Sob uma das traves me vejo Barbosa saltando para tirar a bola do cantinho da coruja. Na entrada da área gozo com a cara do atacante Gringo, boquiaberto com o chapéu aplicado por Ipojucan. Paro no grande círculo e revivo os passes açucarados com que o Príncipe Danilo punha Maneca, Nestor e Ademir na cara do gol a todo instante.

Nem dou conta do tempo que passa. A noite desce. Apagam-se os refletores. Vôo na canção de Orestes ao ver a lua iluminando o gramado, chão das estrelas da colina histórica. Retiro-me feliz.

Banido da Gávea, Jair foi para São Paulo onde iria brilhar, conquistando nada menos que oito títulos (no Santos, Palmeiras e Seleção Brasileira). A camisa queimada na inesquecível tarde de 1949 não fez falta alguma ao bom Jajá. Nem a camisa, nem o Flamengo…


Ficha Técnica – Vasco 5 x 2 Flamengo.

Campeonato Carioca de 1949 – Primeiro Turno.

Data: 21/08/1949.

Local: São Januário.

Vasco: Barbosa; Augusto e Sampaio; Eli, Danilo e Jorge; Nestor, Maneca, Ademir, Ipojucan e Mário. Técnico: Flávio Costa.

Flamengo: Garcia; Juvenal e Job; Valdir, Bria e Jaime; Luisinho, Gringo, Zizinho, Jair e Esquerdinha. Técnico: Togo Renan Soares (o Kanela).

Árbitro: MacPherson Dundas.

Gols: Augusto (contra) 3′, Gringo 6′, Danilo 17′ e Maneca 27′ do 1º tempo; Maneca 8′, Nestor 16′ e Ipojucan 32′ do 2º tempo.

Expulsão: Esquerdinha.

TAGS: Flamengo | Geral | Vasco

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