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MESTRES DO SALÃO

19 / janeiro / 2017

por Sergio Pugliese

“Caro Sérgio, estou indo dormir triste e preocupado. Acabo de ler que o Vila Isabel, simpático clube da 28 de Setembro, está atolado em dívidas e encerrará as atividades. Joguei no Grajaú Tênis por oito anos e enfrentei o Vila por diversas vezes, sempre contra timaços. Fiz amigos, como Mazuta, Zé Mário, Bottino e Marquinhos, sem falar nas lendas Serginho, Aécio, Gizo, Celso, Adilson e outros que formaram o melhor time de futebol de salão de todos os tempos. Quem viu, sabe. Não valeria uma pelada de mobilização?”. A mensagem do amigo Luiz Antonio, o Tonico, camisa 10 do Xavier, acendeu o sinal de alerta e fomos nos aprofundar no tema. A conclusão de nosso farejador Reyes de Sá Viana do Castelo foi a pior possível: com o crescimento dos condomínios os clubes de bairro reduziram drasticamente o número de sócios e para sobreviver muitos desmantelaram seus times principais e outros, sem opção, fecharam as portas. Na década de 60 e 70, os campeonatos estaduais pegavam fogo, o nível era altíssimo e os torcedores lotavam as quadras para babar com o talento de Hugo Aloy, do Fluminense, Julinho, do Flamengo, e Edgar, do Imperial. Eram memoráveis clássicos, mas o charme perdeu o fôlego e Jacarepaguá, Canto do Rio, Mackenzie, Manufatura, Bonsucesso, Piedade, Atlas, São Cristóvão, Helênico, Monte Sinai, Vitória, Grajaú Tênis e tantos outros deixaram seus times pelo caminho. 

– O salão era um celeiro de craques e sem qualquer bairrismo os times paulistas, para conquistarem os primeiros campeonatos nacionais, tiveram que contratar cariocas – garantiu o vitorioso técnico Sebastião de Sá-BE TUDO, o Tião Búfalo. 

Para debater a época de ouro dos times de salão, a equipe do A Pelada Como Ela É reuniu para uma resenha, na Associação Atlética Banco do Brasil, na Tijuca, seis jogadores fenomenais, verdadeiras lendas e considerados por muitos especialistas insuperáveis em suas posições até hoje: o ala Serginho, do Vila Isabel, o ala esquerdo Álvaro, do Carioca da Gávea, o ala direito Mauro Bandit, do Vasco, os pivôs Tamba, do América, e Paulinho Careca, do Cassino Bangu, todos da década de 60 e 70, e o beque parado Paulinho Shaolin, do Bradesco, da geração seguinte. 

– Não há similares no mercado de hoje – atestou Tião. 

Três craques do futsal, Sérgio Sapo, Marinho Picorelli e Marcelo Grisalho ajudaram nossa equipe a reunir o grupo. Quando chegamos na AABB, Mauro Bandit já estava lá. Me emocionei ao vê-lo porque já ouvira incontáveis histórias sobre ele durante esse um ano e três meses de coluna: “não há nada igual”, “a bola some em seus pés”, “é um mago”. Mauro Bandit começou no infanto do Carioca da Gávea e passou por Fluminense, Flamengo, Vasco, Palmeiras, Lázio e Ortan, da Itália, Toledo e Interview (pentacampeão), da Espanha, e Maatrich, da Holanda. Aí, estourou o joelho. Em Alicante, criou o primeiro curso de treinadores e se a Espanha hoje é uma potência na modalidade ele é um dos responsáveis. De repente, seus olhos brilharam. Álvaro e Paulinho Careca chegaram! 

– Meus Deus, nunca vi jogadores como eles – comentou, baixinho, para ele mesmo. 

Álvaro foi eleito o melhor jogador do Brasil várias vezes, atuou pelo Flamengo, Vila, Grajaú Tênis, Municipal e seleções carioca e brasileira. Chegou de mochila porque ia bater uma bolinha depois. Paulinho Careca, o mais escrachado de todos, chegou anunciando que nunca perdera para ninguém ali e que no início da carreira amargou a reserva por três anos para o filho do diretor do Grajaú Tênis. Ali todos eram unânimes. Paulinho Careca, Vevé, do Vasco, Tamba e Hugo Aloy estão entre os melhores pivôs de todos os tempos. E olha que Tamba começou como quarto goleiro do Grajaú Tênis. Paulinho Shaolin chegou e foi saudado como o pioneiro na marcação lateral aos pivôs. Mas quando Serginho do Vila surgiu a reverência foi ampla, geral e irrestrita. Serginho, hoje corretor imobiliário, é uma espécie de guru e o ídolo absoluto de toda uma geração. Aproveitou seu prestígio e fez dois pedidos: para a Prefeitura não deixar os clubes de bairro morrerem e a inclusão do futsal como modalidade olímpica. 

Em volta, torcedores da velha guarda não acreditavam no que viam. “Se jogassem hoje todos estariam milionários”, disse o fã Ricardinho. Mas os ídolos também encantavam o menino Gabriel, de 11 anos. Filho de Marcelo Grisalho, ele cresceu ouvindo histórias do pai sobre cada um deles. Quarenta anos depois, ainda ídolos! Não é para qualquer um! Ali, naquela mesa da AABB, estava reunido um time dos sonhos, gente humilde, boleiros de verdade. No fim da entrevista, Álvaro convidou todos para assistirem sua peladinha. Não iam perder essa! Foram em fila, como nos bons tempos. Se apoiaram no gradil e entreolharam-se com enorme admiração. Os mestres do salão estavam em quadra novamente. 


Da esquerda para direita: Tamba, Tião Búfalo, Álvaro, Mauro Bandit, Serginho do Vila, Paulo Shaolin e Paulinho Careca.
 

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É, no dia 16 de julho de 2011.

1 Comentário

  1. Carlos Antônio

    VERDADE JOGADORES QUE HOJE SERIAM OS MELHORES. CONHEÇO ALGUNS. MAS ESTÁ FALTANDO OUTROS, INCLUSIVE APIO, QUE JOGOU NO IMPERIAL E MACKENZIE.

    Responder

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