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MEIO SÉCULO DE UMA PAIXÃO CHAMADA FUTEBOL

4 / julho / 2024

por Mário Moreira

Não sei se a maioria dos fãs de futebol tem uma lembrança precisa de quando se apaixonou
por esse esporte tão extraordinário.
Pois eu, modéstia à parte, tenho. No último dia 13 de
junho, completei 50 anos de futebol.

Contava eu sete anos e meio quando, no Dia de Santo Antônio, Brasil e Iugoslávia fizeram o
jogo de abertura da Copa do Mundo de 74, na então Alemanha Ocidental. Até aquela data,
embora já me reconhecesse desde pequeno como torcedor do Fluminense, eu não dava
muita bola para futebol e, nos momentos de lazer, me ocupava com outras brincadeiras com
os três irmãos. Minha relação com o esporte se limitava a jogar com eles no playground do
prédio. Mesmo no dia do tal Brasil x Iugoslávia, nem sequer vi a cerimônia de abertura, que
consistia em apresentações folclóricas dos 16 países participantes do Mundial. Não me
interessei. Mas quando a bola rolou…

Meus irmãos foram assistir àquele chocho 0 x 0 na casa da minha avó paterna, a única
pessoa da família que tinha TV em cores. A partir do segundo jogo da seleção, contra a
Escócia, cheio de entusiasmo, migrei com meus pais para lá, onde acompanhávamos a Copa
com meus irmãos, tios e primos – e com minha avó, que, além de extremamente carinhosa
com os netos, tinha a imensa qualidade de também ser tricolor.

O fato é que acompanhar a Copa de 74 mudou a minha vida, e para muito melhor. Foi ali
que comecei a apreciar futebol de verdade e a admirar grandes jogadores, como Marinho
Chagas – então no Botafogo, o que me fazia me morder de inveja dos alvinegros -, os
alemães Maier, Breitner e Beckenbauer e, acima de todos, Rivelino, que, para meu deleite,
oito meses depois estreava com a camisa do Fluminense.

O curioso é que, fora os sete jogos do Brasil naquele Mundial, me lembro de ter assistido a
somente quatro: Alemanha Oriental 1 x 0 Alemanha Ocidental, Argentina 4 x 1 Haiti, o
eletrizante Alemanha Ocidental 4 x 2 Suécia e a finalíssima, Alemanha Ocidental 2 x 1
Holanda. Devo ter visto trechos de outras partidas também. Mas na memória, só essas. E
não guardo especial lembrança do decantado Carrossel Holandês, batido na final pelos
alemães.

A partir daquela Copa, o radinho de pilha – um Sharp com uma capinha de couro azul claro – passou a ser meu companheiro inseparável, já que na época a televisão não transmitia as
partidas. Eu ouvia todos os jogos de todos os times, sempre pela Rádio Globo, na narração
de Waldir Amaral, Jorge Cúri, José Carlos Araújo, Édson Mauro, Antônio Porto e Sérgio
Moraes e nos comentários de João Saldanha, Mário Vianna, Luiz Mendes, Alberto
Rodrigues e Affonso Soares. E os domingos não podiam terminar sem a mesa-redonda da
TVE, com apresentação de Luiz Orlando e participação de Sérgio Noronha, José Inácio
Werneck, do onipresente Luiz Mendes e do meu ídolo Achilles Chirol, o equilíbrio em
forma de comentarista.

A fissura por futebol só fez crescer com o tempo, com tantas e tamanhas implicações
pessoais e profissionais que não caberiam num artigo como este. Basta dizer que, vinte anos
depois do Mundial de 74, já então jornalista, saí da casa dos meus pais e me mudei para São
Paulo, para trabalhar como repórter esportivo da Folha de S.Paulo.

A vida me conduziu depois por outros caminhos profissionais e pessoais, mas mantenho até
hoje com o futebol essa relação tão especial que, embora difícil de explicar, você, leitor do
Museu da Pelada, certamente entende. Treze Copas do Mundo, dezenas de craques e
milhares de jogos após aquele 13 de junho, ver futebol em família pela TV e ir aos jogos
com meus amigos, ou mesmo sozinho – se bem que nunca se está sozinho na arquibancada
de um estádio –, permanecem entre os meus programas favoritos. Lamento apenas não ter
estado no Maracanã no dia 4 de novembro de 2023 para assistir in loco à sonhada conquista
da Libertadores, frustração que vou levar para o túmulo, junto com todas as outras.

O grande Alfredo Di Stéfano mandou erguer, no jardim de sua casa em Madri, uma estátua
de uma bola de futebol, com a inscrição “Gracias, vieja!”. Tivesse eu um jardim, bem que
poderia fazer o mesmo.

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1 Comentário

  1. Cristina Lemos

    Que paixão apaixonante !!!

    Responder

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