por Claudio Lovato
O menino estava sentado entre o pai e o tio. Dois irmãos em guerra no estádio quase lotado.
O menino chegou a achar que eles não viriam juntos para o jogo, temeu que eles desistissem, o que faria com que ele tivesse que se contentar em assistir à partida pela TV.
O pai e o tio gritaram um com o outro, em pleno almoço de domingo, na frente do vô e da vó.
O pai e o tio brigaram por causa de política.
Apoiam candidatos diferentes a presidente da República. Aliás, completamente diferentes.
O pai disse que o tio era um “babaca reacionário”.
O tio chamou o pai de “comunista demente”.
A mãe e a tia do menino repreenderam os maridos. Elas repetiam o nome deles.
O pai falou que o tio era um “direitão baba-ovo de milico”.
O tio não gostou nada dessa e xingou o pai de “bundão metido a intelectual”.
Foi quando o vô, que nunca batia na mesa, nunca gritava e nunca dizia palavrão, bateu na mesa, gritou e disse palavrão: “Porra! Vocês parecem duas crianças!”
O menino nunca tinha visto o vô irritado daquele jeito.
O pai e o tio ficaram quietos, mas parecia que iam saltar por cima da mesa e sair no tapa a qualquer instante.
A vó se levantou e foi para o quarto. Todos viram que ela tinha começado a chorar. A mãe e a tia do menino foram atrás dela. Antes, a tia disse:
– Estão satisfeitos?
A vó não era de chorar. A vó era mais do tipo “braba”. O menino estava surpreso.
Então, não deu outra.
A vó voltou do quarto com as duas noras atrás dela, chegou ao lado do pai do menino e o segurou pela orelha.
– Levanta! – ela mandou.
Ele resmungou, mas obedeceu. Ela fez a volta na mesa, com o pai do menino de arrasto, e agarrou a orelha do tio, que tentou escapar do “alicate”, mas não conseguiu.
A vó rebocou os dois para a área de serviço, e o que ela disse lá só os três sabem.
Agora estão ali, sentados, cada um com uma orelha latejando, com o menino entre eles.
O menino diz:
– Vou ao banheiro. Querem alguma coisa do bar?
Os dois balançam a cabeça de um lado para o outro, mal-humorados, emburrados, beiçudos.
– Já volto. Não briguem. Se comportem. Eu não demoro.
E lá se foi ele, escadaria acima, carregando nas costas todo o peso dos seus 12 anos de idade e toda a responsabilidade que lhe coube assumir.
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