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MASOQUISMO

17 / outubro / 2019

por Rubens Lemos


Jogo e treino de seleção brasileira – de qualquer categoria – são atividades decisivas para o currículo de qualquer masoquista juramentado. É assistir, se irritar, chamar palavrão, desligar e ligar de novo a televisão para ver nulidades sem recurso e passeando lerdas pelo gramado.

Em especial o Brasil de Tite, conseguiu construir uma ponte imaginária entre defesa e ataque. A bola só sai de um setor até o outro na base do chutão e na canelada. É que mataram deixando em decúbito dorsal o meio-campo, área nobre de uma peleja, onde pontificaram craques e monstros sagrados.

É masoquismo olhar para Casemiro, pobrezinho, o camisa 5 atual e lembrar Clodoaldo de 1970 ou Paulo Roberto Falcão, dominando a bola do alto até o chão no biquinho da chuteira, sem fazer força, a bola querendo ficar e os craques desejando o fluir do ataque.

A gente olha para a camisa 8 de Arthur e é uma tremenda sacanagem com: Zizinho, Didi, Jair Rosa Pinto, Gerson, Sócrates, Geovani, Adílio, Silas, Paulo Isidoro, Mendonça, Pita, Jorge Mendonça e Jair, do Internacional tricampeão com Falcão.

Arthur foi escolhido após pesquisas científicas. Em busca da mediocridade imbatível, estudaram, colheram dados físicos e traços de personalidade até que o bicho deu em Arthur.

Arthur é a negação dos talentosos natos. Erra o passe a 1 metro de distância do companheiro e é figura proeminente do recurso mais em voga no Sul do país: o carrinho, pela frente ou por trás, para derrubar com dor o adversário de categoria superior.

Philippe Coutinho, mais para chatinho, sujeito emergente que ficou irritadinho, todo fresquinho, não-me-toques, é um abuso à história de Rivelino, Jairzinho, Paulo César Caju, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Zico, Alex, Djalminha, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, enfim, um atentado ao bom senso e um reforço a quem sofre por convicção e navega nas agonias mais nefandas.


Bem, chegamos ao ataque. Se vocês me dão licença estou rindo alto e sem conseguir chegar ao teclado do computador. Só de pensar que caindo pela direita está Roberto Firmino, o alagoano casado com uma linda loiraça, prova do amor Real $. Roberto Firmino percorrendo caminhos que já foram de Mané Garrincha.

Imaginemos o diálogo fictício:

Mané: É fácil, garoto, parte pra cima “dos” homem e é “só” driblar um a um.

Firmino: Mas seu Mané, não dá para alguém me ajudar não a fazer o dois toques?

Mané(moleque): Quem? (apontando para Casemiro), aquele gordinho é o maior grosso, um passe dele desemprega atacante. Faz o seguinte, pra te ajudar. Corre em linha reta, sem marcação, corta para o meio e bate para o gol, aproveita que está sem goleiro…

Compenetrado diante do alto grau de dificuldade, Firmino, aos tropeços na bola, consegue chegar à marca do pênalti e chuta de joanete, longe da trave nua. Garrincha desiste e volta para a nuvem que ocupa nos céus de Pau Grande (RJ).

É a vez de Neymar, ou “Júnior”. Com cara de quem está querendo urinar ou levou um beliscão, o camisa 10 vai pedalando sobre a bola desde a intermediária, xingando beques que só ele vê.

Chega na área, levanta a bola e solta o voleio. Berra, esperneia, chora, grita “Eu sou melhor que Pelé, eu sou melhor que ele”. Surgem dois gigantes enfermeiros. Aplicam sedativos no rapaz que vai apagando não sem antes suplicar: “Eu quero a camisa 1000, a 10000, a 1 milhão. Eu sou o melhor. O melhor do mundo.“ Ri agora um sorriso abobalhado, patético, de fim de carreira.

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