A BOLA DA VEZ
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo: Rodrigo Cabral | fotos: Marcelo Tabach
Na abertura das Olimpíadas, o Museu da Pelada prestigia o basquete, uma das modalidades mais praticadas no mundo.
A dica veio de Ney Pereira, técnico da escolinha de futsal de Gustavo, filho mais velho de Marcelinho, ídolo do basquete do Flamengo.
– Em determinado momento do treino ele vai para um canto da quadra, pega a bola de salão e fica arremessando numa cesta de lixo. Acerta todas!!!
O que teria levado Marcelinho a optar pelo futsal? A equipe do Museu da Pelada, aproveitando o clima olímpico, investiu em outra modalidade e foi até a quadra do condomínio do atleta, na Barra, conferir. A resposta não poderia ser outra.
– O futebol faz parte da infância de toda a criança, não dá para forçarmos uma barra, tem que ser natural.
Com Marcelinho Machado foi assim. Na infância, praticava judô, natação, futebol e basquete. Quando era aluno do Colégio Santo Inácio, integrava as seleções da série e, pela altura, era um dos principais zagueiros do time de futebol. No basquete, começou aos 10 anos, quando assistia a um treino do seu irmão mais velho, no Flamengo. Naquele dia, o técnico Peixoto avisou que o clube teria uma categoria mais nova e perguntou se o menino tinha interesse.
– Não pensei duas vezes! Como ia recusar um convite daquele? Ali começou minha história no basquete. Me federei e de lá para cá nunca mais larguei o esporte. E está difícil largar! – admitiu o ala, que acabou de renovar o contrato com o Flamengo por mais um ano.
E com Gustavo, camisa do Barcelona, não deve ser diferente. O menino sonha em repetir os passos do paizão. Aos sete anos, demonstra talento no esporte, o que ficou visível nos arremessos certeiros durante a disputa entre ele e o pai sugerida por nossa equipe: cinco arremessos e cinco cobranças de pênaltis para cada um. Nos arremessos acertaram todas, mas nos pênaltis o filho venceu confirmando o bom trabalho do professor Ney Pereira. Thiago, o caçula de três anos, também demonstrou habilidade e arrancou gargalhadas ao tentar passar a bola de basquete entre as pequenas pernas. Renata, a mãe, babava!!!!
Como também baba com a trajetória do maridão nas quadras.
– Se Zico é o herói do Flamengo, no gramado, Marcelinho assume esse posto de ídolo nas quadras! – resumiu o segurança do condomínio.
Contratado pela equipe de basquete do Flamengo, em 2007, o ala foi fundamental na mudança de postura do time e é o principal nome na história recente de títulos do clube. Aos 41 anos, Marcelinho foi fundamental na conquista do último título nacional do Flamengo, o quinto com a camisa do clube, sendo eleito um dos melhores jogadores da Liga Nacional de Basquete. O bom desempenho na competição animou os torcedores em relação à participação do jogador nas Olimpíadas. Ídolo mundial na modalidade, Oscar Schimdt chegou a dizer que convocaria Marcelinho se fosse o treinador da seleção.
Mas a convocação não aconteceu, o que não mancha em nada a brilhante carreira do jogador. Pela seleção, foram três medalhas de ouro pan-americanas, cinco mundiais disputados e a participação nas Olimpíadas de Londres. Antes de se tornar ídolo do clube, no entanto, Marcelinho percorreu um longo caminho fora dele. Como seu pai era diretor do Fluminense, se transferiu para o clube das Laranjeiras, aos 14 anos, para poder ser mais bem supervisionado. Ficou no Flu até se tornar profissional e, a partir daí, começou sua saga. Sempre buscando aprimorar as técnicas, o craque jogou em Minas e no Sul, antes de chegar ao Botafogo, no final dos anos 90, onde começou a se destacar.
Depois disso, aventurou-se na Europa. Jogou no Rimini Crabs, da Itália, e no Cantabria Lobos, da Espanha. Retornou ao Rio para jogar no Telemar, sendo o principal responsável pelo título nacional da equipe, em 2004. Em 2005, pela seleção, foi eleito o melhor jogador da Copa América e logo se transferiu para o Zalgiris Kaunas, da Lituânia, onde o basquete é o esporte mais popular.
– As pessoas que não acompanham o esporte não entenderam essa minha transferência. Mas a Lituânia é uma das potências mundiais do basquete. A estrutura era de primeiro mundo. Nunca tinha visto nada parecido com aquilo, foi muito bom para a minha carreira.
Em 2007, aos 33 anos, apostou no projeto de reestruturação do basquete do Flamengo e chegou com status de ídolo. Até então, a equipe era respeitada no Rio de Janeiro, mas deixava a desejar nas competições nacionais. Coincidência ou não, depois que o astro foi contratado, o time conquistou a Liga das Américas, o Mundial e a Liga Nacional, sem contar os títulos estaduais.
– Jogar no meu time de coração é um sonho! Comecei a ir ao Maracanã com cinco anos de idade para assistir àquele timaço liderado por Zico. Era uma época mágica, todo jogo era certeza de goleada e bom futebol.
Com incríveis 18 títulos em nove anos de Flamengo, o atleta caiu nas graças da torcida e foi ovacionado na última conquista da Liga Nacional.
Mas no meio da entrevista, Marcelinho volta ao futebol e revela que sempre tenta jogar peladas com os companheiros do clube, mas esbarra no preparador físico. Segundo o ala, os aquecimentos antes dos treinos são monótonos e a pelada só é liberada se os jogadores ganharem a aposta.
– Todo mundo gosta de jogar futebol! Como ele não costuma deixar, a gente faz apostas! Se ganharmos três partidas seguidas, por exemplo, o futebol é liberado!
Uma pelada inesquecível para o craque ocorreu em 2003, quando o jogador ainda atuava na Europa. De férias no Brasil, Marcelinho organizou um jogo no Maracanã com os amigos. Logo no início da partida, o craque do basquete recebeu uma bola na zaga e viu um companheiro desmarcado no ataque:
– Mirei nele e dei um bico para frente! A bola foi perfeita! Ele saiu de cara para o gol, mas se embolou todo com a bola e não conseguiu chutar. Até hoje brinco com ele por causa disso. Não sabia que era capaz de dar um passe desses – vibrava enquanto a mulher comprovava o feito mostrando imagens do Youtube.
Se o momento mais especial no futebol não terminou com a bola na rede, o mesmo não se pode falar do basquete. Segundo Marcelinho, a “cesta da vida” ocorreu no Mundial em 2002, contra a Turquia, no último segundo de jogo, garantindo a vitória. Outro momento mágico eleito pelo atleta foi a classificação para as Olimpíadas de Londres, diante da República Dominicana.
– A gente tinha ficado fora de três Olimpíadas e chegamos um pouco desacreditados na competição, sem alguns jogadores importantes. Participar das Olimpíadas é o auge na carreira de qualquer atleta e comigo não foi diferente. A convivência na Vila Olímpica, o clima e tudo que envolve os jogos são muitos divertidos! – finalizou.
Se os filhos vão seguir os passos do pai, só o tempo dirá, mas se eles fizerem metade do que Marcelinho fez, já serão grandes craques do basquete nacional!
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