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LUISITO FALOU

7 / outubro / 2024

por Claudio Lovato Filho

Luis Suárez não é ídolo por acaso. Não é ídolo apenas porque joga muito ou porque é totalmente comprometido com os objetivos da equipe da qual faz parte ou porque não economiza esforços durante cada minuto em que está em campo. Uma parte muito importante da condição de ídolo que Luis Suárez sustenta é a sua liderança.

Luisito é um daqueles caras que se sentem bem, sem sente em seu elemento  fazendo parte de um grupo de atletas profissionais, cidadãos, pessoas que representam uma coletividade, seja ela um clube ou um país. Luisito tem uma causa: o futebol, a seleção uruguaia, o Uruguai. E quando escrevo “futebol” me refiro ao amor pelo jogo em si e incluo nisso a completa entrega aos clubes pelos quais passou (entre eles, para meu grande orgulho, o Grêmio).

Por uma “questão de convivência” (em suas próprias palavras), Luisito foi a público dizer o que tinha a dizer só depois de se aposentar da seleção uruguaia. Em entrevista à DSports Uruguay deu detalhes sobre o ambiente atual na Celeste, cujo técnico é Marcelo Bielsa. Luisito disse que o treinador sequer cumprimenta os jogadores e que há casos de desrespeito, com os ocorridos com o centroavante Canobbio, tratado como “sparring” nos treinos da Celeste. Em outro episódio, o técnico argentino, de acordo com o relatado, pediu que os jogadores não cumprimentassem os torcedores uruguaios na entrada do hotel de uma das cidades-sede da Copa América, nos Estados Unidos. Além disso, de acordo com Luisito, Bielsa não permite que os funcionários tenham contato mais próximo com os jogadores, nem mesmo que os cumprimentem ou tampouco façam refeições com eles no Complexo Celeste, como é (ou era) hábito na seleção uruguaia.  

Luisito não se calou enquanto estava lá dentro. “Como capitão, em agradecimento ao povo, paramos todos”, respondeu ao treinador diante do pedido para que os jogadores ignorassem os torcedores agrupados na portaria do hotel. Em outra ocasião, atendendo a um pedido dos jogadores, Luisito foi falar com Bielsa. Queria transmitir o pedido dos colegas para que Bielsa ao menos os cumprimentasse com um básico “bom dia”. Sentou-se à frente do técnico e, por cinco minutos, disse-lhe, entre outras coisas, que estavam todos no mesmo barco. Bielsa, conforme contou Luisito, se limitou a dizer: “Muito obrigado, Luis”. Então o maior artilheiro da seleção do Uruguai, autor de 69 gols em 143 partidas, se levantou e foi embora.    

Luisito Suárez pediu ao torcedor uruguaio: apoiem os jogadores. Ele saiu da seleção, mas a seleção não saiu dele. Seus companheiros continuam sendo seus companheiros. Ele não se esqueceria deles, porque é um líder. E um líder de verdade, como Luisito Suárez, não aceita passivamente que seus companheiros sejam maltratados.      

Fosse um outro, poderia dizer para si mesmo: “Isso não é mais problema meu”. Mas não. Ele falou. Há quem concorde com maneira como ele agiu, há quem discorde. O meia Valverde disse: “É tudo verdade. Não mentiu nem exagerou em nenhum momento”. O goleiro Rochet também confirmou tudo, mas fez a ressalva de que, em sua opinião, o assunto deveria ser resolvido internamente, “a portas fechadas”. Valverde concorda com Rochet. Fica, então, a pergunta: e o torcedor uruguaio, ele não tem o direito de saber o que acontece nos bastidores da sua seleção?     

Foi um desabafo, uma crítica e uma denúncia. Talvez Bielsa venha a público para se defender. Talvez não faça isso. Tem direito de falar ou se calar. O fato é que Suárez expôs uma situação potencialmente perniciosa e provavelmente a estancou. À sua maneira – uma maneira pouco usual no futebol de hoje, em que, cada vez mais, cada um pensa em si –, Luisito pode ter conseguido o que todos os jogadores queriam: uma mudança para melhor no relacionamento com o treinador.

Luisito falou pelos seus companheiros, todos mais jovens – e este é um ponto muito importante nessa história. Falou também pela seleção do seu país, e quem acompanha a carreira dele sabe o quanto tudo isso é importante para ele: os companheiros, a seleção, o Uruguai.

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