por Rubens Lemos
A sensualidade do toque de Luan ao fazer o gol do Grêmio na final da Libertadores lembrou-me a beleza mediterrânea e sem exageros da atriz Dina Sfat, diva dos meus tempos de menino. Luan entrou sem pedir permissão aos argentinos do Lanus com a classe de Dina Sfat efeitiçando Francisco Cuoco em alguma novela dos anos 1970. O Museu da Pelada é nostalgia requintada e a beleza dos pés encantadores de Luan e o sorriso de esfinge-mulher de uma musa sem silicones ou botox.
Luan e Dina, um belo par de exuberância simples. Dina Sfat jamais exagerou em erotismos grosseiros nas tramas de Janete Clair, a mulher que prendia o país sem truculência nos idos da Ditadura. Suas novelas mantinham famílias inteiras sentadas e imóveis à espera do desfecho do mistério, da consumação do romance impossível, da maldade desmascarada do canalha-mor vivido por José Lewgoy.
O futebol é arte em roteiros imprevisíveis. Luan fez dos seus toques, a expectativa de milhões pelo florescer afirmativo de um craque. Autêntico e puramente brasileiro, sem obediências teóricas ou esquemáticas. Luan fez renascer dos velhos corações ávidos e mendicantes da arte, o brilho que surge de uma interpretação de verdade.
Dina Sfat, a musa discreta e edificada de charme, partiu em 1989, aos 50 anos, de câncer, 14 anos antes de Luan brotar, de uma manjedoura certamente tricolor, para repetir em campo a técnica primorosa de uma artista no palco. Luan, menino que tem Jesus no sobrenome, elevou as nuvens o futebol bonito, livre e cenográfico. Especial tanto quanto Dina Sfat, na capacidade única de construir finais felizes em cada último capítulo da vida.
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