por Victor Kingma
Invicta há vários anos, a equipe formada pelos jagunços bons de bola (e de peixeira), do agreste pernambucano, era o orgulho do seu velho e temido presidente cangaceiro, figura lendária e temida em todo o nordeste. Nenhum time conseguia (ou ousava) derrotá-la. Afinal, os métodos empregados nem sempre eram muito esportivos. Muitas vezes, para intimidar adversários e arbitragem, a peixeira substituía a bola em caso de dificuldades em alguma partida.
Já velho e sem enxergar direito, o patrono do time não ia mais aos jogos. Todo domingo à tarde ficava na fazenda esperando a rapaziada para mais um churrasco de comemoração. Terminada cada partida, o foguetório no caminho de volta indicava ao “chefe” sobre mais uma vitória. Esta era a rotina dominical. Já se tornara folclore em toda a região.
Mas, naquele domingo, entretanto, alguma coisa errada tinha acontecido. O silêncio dominava o povoado e ninguém ouvia os gritos de euforia e o barulho dos foguetes no caminho de volta.
Cabisbaixos, os atletas e o técnico vão se aproximando da fazenda, tendo à frente o capitão Carranca, um misto de zagueiro e cangaceiro, atleta muito conhecido na região, não pela habilidade que tinha com a bola, mas pela voracidade que atingia a canela dos adversários.
Na sacada da fazenda, impaciente, o velho cangaceiro ansiava por uma explicação:
– E aí? O que aconteceu?
– Perdemos! Com aquele juiz não tinha jeito! – Desabafa desolado o truculento zagueiro.
– E que juiz ousou nos desafiar? Traga-o imediatamente até aqui!
– Melhor deixar pra lá, chefe.
– Quem é o juiz? – Grita furibundo, já de pé sob a sacada.
– LAMPIÃO, chefe!
O velho cartola cangaceiro coça o cavanhaque, tira o chapéu, e arremata:
– Pensando bem, “cabra macho” de verdade tem que saber a hora certa de perder…
– Vamos ao churrasco pessoal!
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