O INCRÍVEL
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach edição de vídeo: Daniel Perpetuo
“Trombava neles e ficava com a bola”. Quem lembra do imponente Jair Marinho em campo, com aquele estilão que amedrontava os mais variados atacantes do Brasil e do mundo, nem imagina a pessoa que ele é fora das quatro linhas. Simpático e brincalhão, o campeão mundial em 1962 lembrou histórias divertidíssimas durante a resenha e arrancou boas gargalhadas da nossa equipe no Horto Botânico de Niterói.
Aos 81 anos, Jair ainda impressiona pela força física mesmo após ter sofrido quatro AVCs transitórios. O biotipo invejável, vale ressaltar, nada mais é do que uma herança de família, já que sua mãe, Leonor Albina, morreu com incríveis 116 anos.
– Ela é um grande exemplo da força da família. Além dos nove filhos que botou no mundo, ela quebrou o quadril aos 92 anos e alguns meses depois já estava andando novamente. É mole? – indagou Jair Marinho Filho, que também foi jogador.
Embora fosse um verdadeiro touro dentro de campo, Jair Marinho nega qualquer tipo de fama relacionada à violência:
– Eu não era violento. Era um jogador que marcava bem. Eu marcava o tempo da bola. No terceiro quique eu já chegava junto. Usava muito a velocidade e o corpo de 90 kg! – justificou.
Se o porte físico avantajado já não fosse o bastante, o lendário lateral-direito revelou ainda um truque para não se dar mal nas divididas. De acordo com ele, entupia os meiões com o saudoso Jornal dos Sports para ficar ainda mais parrudo e proteger as canelas.
Em um dos muitos casos relembrados, Jair se divertiu contando o desentendimento com o ponta-esquerda Paraná. No dia anterior à partida, os dois se encontraram em uma barbearia e, sem notar a presença do rival, Paraná disparou que ia bagunçar Jair Marinho. Revoltado, o lateral avisou que ia ter troco.
– Falei para não tentar passar por mim porque eu ia levantar ele. Não obedeceu, joguei longe e ele teve que sair de maca!
Comandado por Zezé Moreira, Jair Marinho marcou época no Fluminense, onde atuou por dez anos e jogou ao lado de Castilho, Pinheiro, Clóvis, Altair, Edmilson, Telê, Maurinho, Valdo e Escurinho. Pelo clube, foi campeão carioca em 59 e bicampeão do Torneio Rio-São Paulo.
Nessa hora, ao lembrar dos grandes jogadores que atuaram ao seu lado ou contra, Jair Marinho fez questão de apontar a carência de craques no futebol moderno:
– Era uma maravilha entrar em campo com Pelé, Rivellino, Nilton Santos… e hoje? Hoje você nem sabe quem são os jogadores. A gente só se importava em jogar futebol. Se não tiver um bom empresário hoje em dia, nem entra em campo!
Vale ressaltar que no clube das Laranjeiras ele teve a oportunidade de jogar ao lado do grande amigo Altair, que hoje sofre de Mal de Alzheimer e já não fala mais. Por isso, levamos uma bela caricatura dos dois, feita pelo parceiro André Felipe de Lima, para presenteá-lo.
Com o desenho em mãos, Jair não mediu as palavras para falar do amigo:
– Ele é um irmão que admiro como jogador e como pessoa. A melhor fase da minha vida foi ao lado dele, jogamos juntos no Fluminense por oito anos. A gente fazia o trajeto Rio-Niterói sempre juntos.
Depois do Fluminense, teve boas passagens por Portuguesa-SP e Corinthians, antes de ser contratado pelo Vasco, onde formou uma zaga de respeito ao lado de Brito, Fontana e Aldair.
Após muita resenha sobre uma trajetória brilhante, ainda restou tempo para a chegada do colecionador Victor Raposo, que trouxe uma mochila abarrotada de camisas de jogo da época e não perdeu a oportunidade de garantir o autógrafo desse grande personagem do futebol brasileiro.
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