por Elso Venâncio
Você aprova a SAF?
A Sociedade Anônima do Futebol chega para colocar gestão, governança e responsabilidade nos clubes. O futebol pentacampeão do mundo estava ilhado de investidores, mas refém apenas de mecenas e empresários.
Como exemplo, veja o caso do Cruzeiro, o primeiro clube a aderir. A agremiação mineira recebe R$ 700 milhões por 90% de suas ações. No entanto, esse não é o valor da venda. O sócio majoritário assume as dívidas, que chegam a R$ 1 bilhão. Poucas empresas no país têm poder para isso.
A dívida celeste, para ser mais exato, era de R$ 1,07 bilhão. O passivo deve ser quitado, obrigatoriamente, a partir do décimo ano, sendo que a cada ano o valor é reduzido em 20%. O próprio mercado indica como se paga a dívida, através de fundos de investimentos e debêntures. Você, torcedor, no futuro poderá adquirir ações do seu clube.
Cruzeiro, Botafogo e Vasco já respiram esse novo modelo. Atlético Mineiro, Athletico Paranaense e Fluminense analisam o negócio, ao passo que o Bahia negocia com o Grupo City. A lei 14.193 completa um ano e, até o momento, 23 clubes já aderiram, entre os quais América Mineiro e Coritiba.
A SAF não é gessada, como uma S/A. ou LTDA. Ela atende a grandes e pequenos. É uma onda gigantesca, que não tem volta.
Antes o dinheiro era colocado na China, nos Estados Unidos e na Europa. A partir de agora vem para o país do futebol, que tem um público fiel e superconsumidor.
O Flamengo anuncia que é contra. Particularmente, considero um erro esse radicalismo. Há vários modelos que podem ser estudados. Tudo bem, o ‘Mais Querido’ detém um orçamento superior a 1 bi de reais. No entanto, um respeitável aporte financeiro não pode nunca ser desprezado. E tem mais: se liberar um percentual pequeno, pode, inclusive, manter-se absoluto quanto às decisões tomadas.
Num primeiro momento, pode-se pensar que um dono tiraria o poder de comando, o que não é verdade. Ora, os clubes sempre tiveram ‘Poderosos Chefões’: Eurico Miranda, família Perrela, Montenegro, Emil Pinheiro, Dunshee de Abranches, Márcio Braga e por aí vai…
Hoje os Presidentes, ao lado dos Conselhos, centralizam as decisões. Um absurdo os clubes, ao longo dos anos, implorarem Refis junto ao Governo para conseguirem sobreviver, sendo que a maioria encontra-se em estado absoluto de insolvência.
Com investidores privados, pessoas físicas assumem responsabilidades. Chegam dinheiro e profissionalismo. Esperamos que a histórica frase do ex-treinador Flávio Costa seja sepultada nos próximos anos:
“O futebol brasileiro só evoluiu do túnel para dentro do campo.”
0 comentários