por Zé Roberto Padilha
O mais bacana no futebol é a paixão. Desmedida, então…. Ter o direito de escolher um lugar na arquibancada, vestir a camisa do seu clube e assumir aquela breve loucura que lhe dá o direito de abraçar com ardor, o dono da camisa ao lado, esteja vestida em quem for, xingar o juiz, ofender o zagueiro adversário e deixar que o resultado guie pelas próximas horas os rumos do seu sentimento. Feliz ou chateado, depende de quem acertou aquela bola na veia e correu para o abraço. Agora, vá se vestir de Pato da FIESP e ir para a Avenida Paulista cruzar com o boneco do Lula com uma bandeira vermelha nas mãos…..
Dezessete anos correndo atrás da bola, defendendo sete equipes em quatro estados diferentes me roubaram esta preciosa emoção. A realidade dos cartolas insensíveis, a fria concentração, o tapinha nas costas que vai virando com o tempo ostracismo na alma, nos roubou a parte mais bonita do imponderável. Não há fantasia que resista a uma barração na portaria de um clube que você entregou seus meniscos, fraturou seus tornozelos e ajudou a erguer sete títulos. Quem viveu o mundo da bola sabe que paixão por lá é sinônimo de ingratidão.
E quando o Ramon acertou aquele tiro cruzado, dando a vitória ao Vasco, não fiquei triste como deveria sendo torcedor tricolor desde garotinho. Pensei no contrário, o Léo nos dando a vitória e o Vasco ficando a um ponto da zona de rebaixamento. Outra vez. O futebol carioca, o brasileiro, não pode ficar sem o Vasco para nos lembrar sempre das nossas origens. De mais um navegador português que passou ao largo do nosso descobrimento e encontrou um caminho alternativo, contornando a costa africana, apara alcançar as preciosidades das Índias. E como apagar do futebol a história de Ademir, Barbosa, Andrada e Roberto Dinamite? Quando dei por mim torcia pelo conjunto da obra futebol movido pela razão. E a paixão tricolor foi posta de lado, não havia mais espaço dentro de mim para a emoção. Que pena!
Bom mesmo era ser tricolor doente, discutir com o André Seixas, rubro-negro, provocar o Décio Barbosa, botafoguense, e buscar na Internet outra piada de vice para sacanear o Professor Filipe. Mas sábado à tarde descobri, no hospital da minha sala em meio a Fluminense x Vasco, que não sou mais um torcedor doente como o meu amigo Andmar Andrade. Recebi alta de uma fria junta médica formada pelos dos deuses da bola e estou curado. Bom para o jornalismo que terá relatos isentos. Pior para mim que perdi a parte insana a que tinha direito no meio de uma multidão encoberta pelo fascínio de um pó de arroz.
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