por Elso Venâncio
Francisco Horta foi um dirigente visionário, acima do seu tempo. “Vencer ou Vencer” era o seu lema. Eleito Presidente do Fluminense, com o aval de João Havelange, em 1975 contratou Roberto Rivellino – simplesmente, o ídolo de Maradona. O dono da “Patada Atômica” estreou num sábado de Carnaval levando quase 50 mil torcedores ao Maracanã. De quebra, marcou três gols na goleada de 4 a 1 sobre o Corinthians, seu ex-clube. Em seguida, chegava às Laranjeiras Paulo Cezar Lima, o Caju. Rivellino e o “francês” Caju eram os maiores jogadores do país.
Horta formou supertimes. Na verdade, foram criadas duas máquinas de jogar futebol. No primeiro ano do seu mandato, a equipe era formada por Félix, Toninho Baiano, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário (Cleber), Pintinho e Rivellino; “Búfalo” Gil (Cafuringa), Manfrini e Paulo Cezar (sendo que Zé Roberto era o titular até a chegada de Mário Sérgio, ídolo do Vitória que faleceu no desastre da Chapecoense, em 2016, que, em contrapartida, perdeu a posição com a chegada de Caju).
Futebol arte, futebol show, espetáculo que só o brasileiro sabia realizar. Em 1976, incrementando ainda mais o que já estava ótimo, veio a política do “troca-troca”. Forma criada pelo dirigente para promover o futebol do Rio de Janeiro sem desembolsar um tostão sequer, já que a bilheteria era o único recurso dos clubes na época. E além disso, empolgava – e como! – o torcedor.
Jorge Benjor, que ainda era conhecido como Jorge Ben, cantava:
“Troca, troca, troca, troca… Quero ver trocar! Se não troca, o homem troca… É melhor trocar!”
A nova Máquina – na verdade, foram duas – ficou mais afiada ainda com o novo “toma lá, dá cá” feito junto ao Vasco. Marco Antônio, Zé Mário e o zagueiro Abel (empréstimo com passe fixado) chegaram a São Januário; o Cruz-Maltino cedeu o zagueiro Miguel.
Horta madrugava no clube, chegando antes mesmo dos nadadores. A imprensa nunca trabalhou tanto como naquele tempo. Novas negociações surgiram: do Botafogo veio o ponta-esquerda Dirceu, em troca de Mário Sérgio e Manfrini. Com o Flamengo ele fez o seguinte: pegou o goleiro Renato, o artilheiro Doval e o lateral-esquerdo Rodrigues Neto, mandando o goleiro reserva Roberto, Toninho Baiano e Zé Roberto para a Gávea. A equipe ficou ainda mais forte. Uma autêntica seleção: Renato, Carlos Alberto Torres, Miguel, Edinho e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Rivellino e Paulo Cezar Caju: Gil, Doval e Dirceu. O Fluminense, campeão carioca de 1975, era o time a ser batido.
Horta refez o grupo após se decepcionar com a eliminação da equipe na semifinal do Brasileiro, em pleno Maracanã, diante do Internacional. A derrota impediu o torcedor de sonhar com a disputa da Libertadores. Nessa partida, venceu a retranca e a violência propagada pelo treinador Rubens Minelli, com seus três cabeças de área: Falcão, Caçapava e Carpegiani.
Mas no Rio, não deu outra. O campeão carioca se tornou bi. O argentino Doval marcou de cabeça, na prorrogação, após um teimoso zero a zero na decisão, contra o Vasco.
Por onde a Máquina Tricolor jogava, sempre recheada de craques, os estádios enchiam. Não eram somente torcedores do clube. Todos queriam ver Rivellino, Caju, Torres, Doval e Cia… Além de Francisco Horta. Sim, o Presidente era tão popular quantos seus craques. Não à toa, foi apelidado de “Presidente Eterno”.
Nas manchetes, os jornalistas não colocavam o nome Fluminense, o que aguçava o ego dos conselheiros, que ardiam de ciúmes. Exemplo:
“HORTA QUER CONQUISTAR O MUNDO!”
A Máquina encantou a Europa ao conquistar o Torneio de Paris, em 1976. Jorge Benjor não perdeu o timing:
“Veja bem como aconteceu
De Presidente a cartola popular
De troca-troca, ele chegou lá
No estádio do Parque dos Príncipes, em Paris
Onde o Flu foi campeão…”
Outra conquista foi a Copa Viña del Mar, no Chile. Alem de ter vencido o maior esquadrão do planeta: o bicampeão europeu Bayern de Munique, com Beckenbauer, Maier, Müller, Rummenigge e grande elenco.
A Máquina logo se preparou para o seu maior desafio. Conquistar o Campeonato Brasileiro de 1976. A campanha foi espetacular. Se a disputa fosse por pontos corridos, o título estaria garantido. Mas os jogos nas fases finais eram eliminatórios, o famoso mata-mata, onde tudo pode acontecer.
O time tricolor era tão forte que Horta, mesmo com uma liminar obtida por José Carlos Villela, o “Rei do Tapetão”, preferiu tirar o suspenso Paulo Cezar Caju do jogo com o Corinthians. Sentiu que dava para ganhar a semifinal sem ele. Porém, a “Fiel” invadiria o Maracanã.
Mas… como se deu isso?
O Presidente tricolor, confiante, foi a São Paulo e convocou a massa corintiana nas rádios e TVs, ao lado de Vicente Matheus, o mandachuva do time paulista. A intenção era promover o jogo que se daria no Rio. Detalhe: Matheus, com a ajuda de Horta, comprou 40 mil ingressos na Federação Carioca de Futebol.
Bola rolando, Maracanã tomado, Pintinho faz 1 a 0 quando, do nada, desabou sob o estádio uma tempestade impressionante. Chuva fortíssima, raios, trovões e, claro, gramado impraticável. Água para tudo quanto era lado. Os paulistas queriam parar o jogo, mas o Fluminense, superior e com sede de chegar à final, não aceitou. Ruço acabou empatando. Nos pênaltis, Rivellino, que tomou uma das maiores vaias de sua carreira, parecia tonto e se acovardou. Foi para o vestiário avisando que não bateria sua penalidade. O destino tirou dos tricolores, nas cobranças de penais, o sonho do título.
Na temporada seguinte, Francisco Horta, um dos maiores dirigentes do século passado, errou feio. De forma obsessiva, desmontou a Máquina para ter na equipe seu sonho de consumo: o lateral-esquerdo Marinho, o “Bruxa”. Trocar Paulo Cezar Caju, Gil e Rodrigues Neto por Marinho foi um tiro no pé. Ainda assim, a equipe conquistou na Espanha o cobiçado Troféu Teresa Herrera. Na decisão, venceu o Dukla, de Praga, por 4 a 1, no Estádio Riazor. No entanto, foi mal no Carioca e no Brasileirão.
Apesar do equívoco na reta final, Francisco Horta merecia chegar à Presidência da CBF. Certamente, contribuiria ainda mais para o bem do nosso futebol. O advogado e magistrado brasileiro, aos 87 anos, segue em atividade. É, desde 2014, o Provedor da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. E será para sempre o “Presidente Eterno”. Um dos maiores símbolos, fora de campo, do tricolor das Laranjeiras.
“Nessa partida, venceu a retranca e a violência propagada pelo treinador Rubens Minelli, com seus três cabeças de área: Falcão, Caçapava e Carpegiani.” Comentário infeliz… muito infeliz. O Inter também era uma máquina, tanto é que foi considerado o time da década de 70.
Meu amigo cabeça de área nenhum tinham ou terão a qualidade técnica de FALCÃO, CARPEGIANE,MESMO CACAPAVA HJ JOGARIA NA EUROPA EM CLUBES DE PONTA,ESSE COMENTARIO É MUITO INFELIZ.
GOSTO MUITO DO MUSEU,PC CAJU ALEM DE CRAQUE E EXCELENTEE COMENTARISTA ,POREM ESSE SENHOR AO COMENTAR SOBRE O INTER TRI NACIONAK VIAJOU NA MAIONESE SEM PAGAR A PASSAGEM.