por Victor Kingma

Almir Amarante, conhecido como Almirante, era um árbitro muito respeitado no interior mineiro. Justo e severo na aplicação das regras, vira e mexe era requisitado para apitar partidas importantes. Pesava contra a sua reputação apenas uma atuação muito suspeita numa recente decisão regional. Chegaram a falar que estaria comprado. Naquele jogo polêmico marcou dois pênaltis inexistentes a favor do Tigre FC, o “Tigrão”, time pelo qual, diziam, tinha uma paixão secreta e incontrolável. Devido ao ocorrido, nunca mais apitou qualquer partida desse clube.
Na decisão daquele ano, uma autêntica guerra entre dois tradicionais rivais da região, e com o Tigrão fora, Almirante mais uma vez foi escalado para apitar a decisão.
Na véspera do jogo o austero árbitro recebe em sua casa a visita do poderoso cartola de um dos clubes, que, desconfiado da propalada honestidade do juiz, lhe oferece uma polpuda soma para facilitar o jogo para seu time. Imediatamente ele o expulsa de casa e todos acabam na delegacia, onde o árbitro registrou queixa por tentativa de suborno. Frente a frente com o delegado, os dois tentam se explicar:
– Este cartola desonesto tentou me subornar! Exclama o árbitro.
– Quem é esse juiz para falar em honestidade, seu delegado! Todos aqui na cidade sabem que ele roubou descaradamente para o Tigrão naquela decisão, marcando dois pênaltis absurdos, defende- se o dirigente.
O delegado, que conhecia bem a fama de subornador do cartola e também a polêmica história dos pênaltis, tenta colocar panos quentes:
– Não é melhor pros dois encerrar aqui mesmo esse assunto? Isso vai acabar em processo. E todos vão ter que se explicar perante a lei. Por que não retira a queixa, seu Almirante?
– Não retiro, seu delegado. Vou até o fim, pois sofri uma tentativa de suborno.
– E a história dos pênaltis? O que vai dizer pro juiz lá no fórum?
– Não sou homem de mentir, seu delegado! Vou dizer a verdade. Que inventei aqueles pênaltis por amor ao Tigrão. Fui traído pela paixão de torcedor. Não recebi nada pelo que fiz. E, revoltado, concluí:
Mas suborno, seu delegado, eu não admito. Sou um homem honrado!
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