por Bismarck Faria
“Sou Bismarck Barreto Faria, tenho 55 anos, um ex-jogador profissional do Clube de Regatas Vasco da Gama. Apaixonado pelo meu Vasco e filho de seu Faria de São Gonçalo.
No sábado, 30 de novembro, quando acabou o jogo do Botafogo pela Libertadores, a primeira pessoa que me veio à mente, por incrível que pareça, não foi nenhum dos muitos amigos botafoguenses que tenho. Mas sim o cara mais bacana, mais especial e mais amoroso que eu conheci na vida: meu pai, falecido há três anos e cinco meses.
Acho que no fundo, meu pai que era muito Vasco, tinha a Cruz de Malta no coração e na alma, nutria um respeito e admiração ímpares pelo Botafogo.
Acredito eu, que muito por causa da época do time Glorioso que ele viu jogar tantas e tantas e tantas vezes com Manga, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Zagallo, Jairzinho, Gérson e Mendonça, esse último, inclusive, eu vi jogar.
Pela Fogonçalo, papai levava eu e meu irmão James em vários jogos do Botafogo. As partidas eram contra o Flamengo, no final da década de 70 e início da de 80.
Sabe, não entendia muito bem porque meu pai, muito vascaíno, nos levava em jogos de um time que não era o nosso de coração. Mas era legal aquelas aventuras futebolística e nós, no fundo, adorávamos, pois era sempre muito especial ir ao Maracanã.
Poucas não foram as vezes em que vi Mendonça jogar. Batendo bola em um campinho perto de casa em São Gonçalo, dizia sempre para meu pai que um dia seria igual ao Mendonça. Eu era uma criança de 10 anos e com essa idade a gente quer ser tudo. Mas o Mendonça, convenhamos, era diferenciado.
Mendonça era craque. A cabeça pensante. O cérebro de um time que contava com Paulo Sérgio, Rocha, Perivaldo, Jerson, com J, Gaúcho e Ademir Lobo. Foi esse Botafogo que perdeu injustamente a semifinal contra o São Paulo, no Morumbi, em 1981, por 3 a 2.
Apaixonante, o futebol é, ao mesmo tempo, injusto. Mas no sábado passado, quando acordei estava com a sensação como se o Vasco fosse jogar a final contra o Atlético Mineiro. Não sei explicar, mas havia em mim uma misto de euforia e preocupação.
Todavia, não entendi muito bem, mas acho que é porque gostaria que meu pai, se estivesse vivo e com 88 anos, pudesse ver o Botafogo em uma final de Libertadores depois de tantos títulos, jogos e campeonatos perdidos.
Imediatamente, lembrei da célebre frase: ‘Coisas que só acontecem com o Botafogo’. Somos pequenos demais para compreender os mistérios da vida, porém, acho que meu pai estaria feliz pelo Botafogo e pelos tantos amigos dele que eram botafoguenses.
No momento do hino nacional, ali, jogadores dos dois times perfilados no gramado do Monumental de Núñez, vi o que para muitos seria sinal de fraqueza, para mim foi um sinal de comprometimento e responsabilidade perante o jogo que tornaria-se os 90 minutos mais importantes do século na história do Botafogo.
Quando notei o capitão Marlon Freitas chorando (esse jogador foi um monstro nessa final), me fez pensar quando eu ainda era jogador profissional. Sim, pois eu chorava de emoção e comprometimento em um jogo de final de campeonato, muito em razão não do medo do jogo e sim em sair de campo derrotado.
Quando Gregore foi expulso, aos 40 segundos de jogo, meu inconsciente falou: ‘Coisas que só acontecem com o Botafogo’.
Confesso que a expulsão de um atleta importante taticamente me preocupou muito. Até porque, em uma final, já é difícil enfrentar um adversário qualificado como o Atlético Mineiro em condições iguais, imagina com um jogador a menos?
Em um primeiro momento, o treinador alvinegro pensou em colocar um volante no lugar de um atacante. Era a mexida mais acertada a ser feita.
Mas quem tirar?
Luiz Henrique, voando? Almada, o cérebro do time? Savarino, jogador incansável? Ou Igor Jesus, atacante que consegue segurar até três zagueiros?
No momento difícil é que o grande treinador aparece. Artur Jorge deixou Danilo aquecendo e esperou para ver como o time iria reagir. Em seguida, ele puxou o Marlon Freitas para fechar a defesa como terceiro zagueiro e fez uma linha de seis.
O time ganhou solidez. Foi equilibrando a partida. Ao final do primeiro tempo, o placar já estava 2 a 0.
No segundo tempo, ao tomar o gol de Vargas, pensei novamente: ‘Coisas que só acontecem com o Botafogo’.
Tomar um gol no início do segundo tempo, você pensa: ‘Serão os 45 minutos mais longos da história de clube’. No entanto, o Botafogo suportou e aos 30 minutos novamente o treinador aparece colocando dois atacantes agudos na frente e não dois volantes para tentar segurar o jogo. Foi ousado.
O técnico conhece a matéria-prima que tem nas mãos. Não à toa, acabou sendo coroado com o gol do jogador mais importante do primeiro semestre do clube quando faltava 30 segundos para acabar o jogo.
Certamente, os deuses do futebol não poderiam deixar de fora Júnior Santos nesse capítulo. Foi um drama tão bem escrito que deixaria até Nelson Rodrigues com inveja.
Entre lembranças e saudosismo, acordei hoje com saudades do meu pai. Segurei minhas lágrimas ao ir comprar pão pela manhã. Esbocei um sorriso puro e sincero ao notar tantas crianças, jovens e adultos com a camisa do Botafogo.
Os títulos perpetuam esse amor alvinegro. É um sentimento que transcende a alma e passa de avós para os pais e dos pais para os filhos.
Que o meu Vasco possa ser inspirar neste Botafogo que ressurgiu e que poucos acreditavam. E faça do trecho do hino do atual campeão da Libertadores que diz: ‘Botafogo, Botafogo não podes perder, perder para ninguém’, uma lei em São Januário.
Parabenizo a todos os meus amigos botafoguenses e a toda torcida do Botafogo espalhada no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo.
E a seu Faria – que está no céu festejando junto com os jogadores botafoguenses do passado que ele tanto assistiu no Maracanã – esse título também é seu”.
Sensacional relato Bismark. E de torcedores assim, que o futebol precisa cada vez mais. S Tricolores de Coração
Grande Bismarck. É eu desde pequena sou botafogo seguindo meu avô e minha mãe q eram fanáticos,inclusive estão no céu ele foi com a camisa e ela com a bandeira do Botafogo. Mas meu pai tricolor,mas fazia todas minhas vontades,inclusive pequena me levou ao aeroporto para ver os jogadores e lá sai até no jornal junto ao perivaldo.q orgulho. E todas minhas camisas eram meu pai q comprava mesmo sendo tricolor.q orgulho do meu botafogo.Parabenizo a todos torcedores do Botafogo.foi tudo lindo,e merecíamos essa linda vitória.
Meu irmão Bismarck. Você é diferenciado. Que texto lindo. Que história forte. Ainda mais falando do Seu Faria, um exemplo de pessoa que posso dizer que fundou a rede do bem. Um cara que cuidou de tantos jovens sonhadores. E eu fui um deles.
Sim. Agora meu Botafogo é dono da América. E tenho visto pessoas como você que se envolveram. Emocionaram-se. Torceram. Mesmo não sendo Botafoguenses. Sinal que o enredo é o grande amigo desse apaixonante futebol. Muito obrigado. Te amo.
Pô, meu amigo e craque Bismarck. Que coisa mais linda.
Obrigado por essa emoção. Vamos marcar um Chopp, lá no Paladino, com o nosso amigo e também botafoguense, Chico, pra comemorar! Abraços.
Sou botafoguense há 65 anos, portanto já vi muita no futebol.
Sem palavras. Linda crônica, e uma bela homenagem ao seu pai.
Parabéns Bismark !!