por Paulo Escobar
No dia de ontem, sentado naquele sofá, ao ligar a TV, chorei ao ver a notícia da tua morte. Passou tanta coisa pela minha cabeça e diante dos meus olhos as memórias que me faziam ver como se fosse hoje tudo que vivi contigo.
Desde aquelas tardes nas ruas da periferia da zona norte de São Paulo, com minha camisa da Argentina que meu pai comprou da pouca grana que tínhamos, eu com meus pés descalços naquelas ruas jogava imaginando estar na Bombonera ou no San Paolo. Eu imaginava que era você.
Ou então naquela infância no meio daquela maldita ditadura militar chilena, nas ruas de Gómez Carreño onde todos brigávamos para ser você. Sim, você me dava alegria em tempos de dores e lamentos! Por momentos, você nos fazia esquecer que vivíamos a sombra das lágrimas e opressões, você aliviava nossas vidas através da bola e por muitos momentos nos fazia sonhar que o mundo era um lugar melhor.
Tua vida sempre foi um tango recheado daquelas histórias de amores e dores. Do teu nascimento pobre em Villa Fiorito, onde você dominava a bola e driblava a fome, de jogar uma Copa do Mundo e vencer uma guerra dentro de campo, fazendo teu povo sentir felicidade em momentos onde jovens morriam pelas Malvinas. Você deu ao mundo o gol mais lindo que uma Copa pode ver, e outro que analistas da moral disseram que era ilegal por ser com a mão, aquela que Deus te emprestou a vida toda.
Hoje é daqueles dias que parecem mentira, daqueles dias que queremos acordar e parecer que tudo foi um sonho, que nada disso está acontecendo. É o dia mais triste na minha vida no futebol, pois nenhuma dor de uma derrota do meu time se compara ao que sinto hoje. Só poderia ser você, aquele que me trouxe tantas alegrias e me fez sonhar tantas vezes, hoje me fez chorar de dor.
No meu coração e na minha mente, nunca caí nas comparações de quem é o melhor, pois para mim abaixo de você todos eram jogadores de futebol, e você estava além de tudo isso. Sim, você era alguém acima de toda essa mediocridade que o futebol coloca, de ser bons moços que não podem demostrar suas fraquezas. Você não ocultou nenhuma delas e assim foi, como dizia Galeano, o mais humano dos deuses.
Com a bola nos pés deve ter tido alguns melhores que você, coisa que você nunca negou, exaltavas Rivellink ou Bochini. Ou quando chegaste em Rosário para jogar no Newells e te falaram que você era o maior de todos e você negou, pois disse que o maior de todos estava naquela cidade e era o Trinche, jogador de campos de terra e grama, que como você era povo e humano.
Hoje o futebol me causou dores, a maior delas, pois num dia de primavera você partiu e, com tua partida o futebol morreu. Sim, hoje o esporte mais lindo de todos foi enterrado, daqui pra frente será um outro futebol, pois será dividido AM e DM (antes do Maradona e depois de Maradona). Hoje quem ama o esporte com a bola nos pés está de luto e dolorido, e os que valorizam a posição política social fora das quatro linhas choram a tua morte.
Você que tanto me fez chorar de alegrias e me fez sonhar com o futebol, hoje me fez derramar as lágrimas mais doloridas. Entre uma cerveja e outra, no meio das lembranças, só queria acordar e que, ao abrir os olhos, soubesse que você ainda está aqui, com os pés na grama e a bola nos pés, ou fazendo mais um gol na Inglaterra, ou mandando a FIFA à merda, ou pulando no meio da torcida do Boca com a camisa girando em cima da tua cabeça.
Aquele moleque pobre que jogava descalço nas ruas e que vibrou com você e sofreu a cada vez que os moralistas te puniam, hoje chora a tua partida. Aquele que te viu entrar em campo e aguardar a genialidade, hoje em lágrimas se lamenta.
O maior de todos, o mais genial, o mais posicionado e mais humano do futebol hoje se foi e com ele o futebol se foi junto, depois de muitas lágrimas penso que você não partiu, mas que somente se fez o que sempre foste, eterno.
Obrigado, Diego Maradona, por tudo que fostes para nós que amamos o futebol além da bola, obrigado pela magia e por ser tão grande e simples, por não ter te esquecido jamais de onde vieste e por não ter poupado palavras para defender aqueles que continuavam morando nas casas de lata. Obrigado por me alegrar em meio às dores da vida, e obrigado por ter me feito amar o futebol.
Obrigado, Diego, por ter existido e por ter vivido a vida do jeito que viveu! Obrigado, Diego, por ter me dado o privilégio de te ver jogar e carregar na memória as lembranças que só você pode me dar.
Obrigado, Diego Maradona!
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