por Elso Venâncio, o repórter Elso
Desde 1954, na Suíça, Armando Nogueira trabalhou consecutivamente em 15 Copas do Mundo. O ‘Poeta do Esporte’ ainda cobriu sete Jogos Olímpicos. É o ‘Machado de Assis’ da crônica esportiva brasileira.
Nascido em Xapuri, no Acre, encantou-se com a seleção húngara do genial Ferenc Puskas, no mesmo Mundial de 1954. Esse timaço ficou dezenas de jogos invictos, perdendo apenas a final da Copa. Por isso, é lembrado e elogiado em várias crônicas de Armando. Aliás, três seleções assombraram o mundo da bola, mesmo não conquistando o caneco: aquela Hungria; a Holanda de Cruijff, em 1974; e o Brasil de Zico, Sócrates, Falcão, Junior e Cia., em 1982.
Botafoguense, Armando era amigo íntimo do seu ídolo, Nilton Santos, que, por sinal, o puxou pelo braço para dar a seu lado a volta olímpica, na Suécia, em 1958:
“Tu, em campo, parecia tantos e, no entanto, que encanto! Eras só um: Nilton Santos” – teceu Armando.
Formado em Direito, mas jornalista por vocação, Armando Nogueira lançou dez livros, todos de esportes, além de centenas de crônicas compiladas das colunas que escreveu em jornais e revistas. Participou também da ‘Grande Resenha Facit’, entre os anos 60 e 70, na TV Rio, ao lado de feras como João Saldanha, Luiz Mendes, Nelson Rodrigues, Hans Henningsen (o ‘Marinheiro Sueco’) e o ‘Queixada’ Ademir Menezes, ídolo do Vasco e artilheiro da Copa de 1950.
Por mais de duas décadas Armando foi um dos responsáveis por construir e solidificar a TV Globo. Diretor da Central Globo de Jornalismo, criou o ‘Jornal Nacional’, primeiro programa do país em rede nacional, além do ‘Globo Repórter’. Também foi o responsável por inserir o futebol na grade da tevê.
Durante o dia, Roberto Marinho ficava no jornal ‘O Globo’. Ao fim da tarde, ia para a emissora. Via o ‘Jornal Nacional’ ao lado de Armando Nogueira. Apenas os dois. Raramente chamava outro colaborador:
“Armando, por acaso o Boni foi visitar o Castor (de Andrade) na prisão?”
“Não sei” – a resposta foi seca.
No mesmo instante, Nogueira chamou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho:
“Não gostei, Boni. Você foi ver o Castor?”
“Havelange me pediu. Estamos negociando os direitos da Copa…”
Armando Nogueira testemunhou o crime que, de certa forma, mudaria a história do país. Passava pela Rua Tonelero, em Copacabana, a caminho de casa, quando escutou tiros. Era o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, fato que levaria o Presidente da República Getúlio Vargas ao suicídio. De madrugada, voltou de imediato para o Diário Carioca, de onde escreveu uma bombástica matéria, em primeira pessoa e com riqueza de detalhes.
Na Churrascaria ‘Porcão’, em Ipanema, me encontrei casualmente com Telmo Zanini, que me apresentou ao filho de Armando, o Manduca:
“Meu Pai é louco por rádio, Elso.”
Pegou o aparelho e discou de imediato para o pai, me passando o telefone:
“Acompanho sempre o ‘Enquanto a Bola Não Rola.’”
Este programa acontecia todo domingo. Era um debate esportivo transmitido simultaneamente pela Globo-RJ e Globo-SP. Perguntei a Armando:
“Mestre, você participaria do programa?”
“Com prazer!”
Logo, tornou-se uma das principais atrações do programa. Nessa época, almoçávamos eu, Fernando Calazans, Paulo Cesar Vasconcellos e Armando. Este, de jaleco e tênis. Do nada, no intervalo entre uma garfada e outra, tirou uma gaita do bolso:
“É importante termos uma atividade lúdica. Virei gaiteiro, toco Bossa Nova.”
O grande Armando Nogueira faleceu aos 83 anos, em março de 2010, em seu apartamento na Lagoa, deixando um enorme legado para o Jornalismo Esportivo do Brasil.
Amigo, não entendo muito de futebol, mas gostei muito do que vc escreveu. Parabéns.