por Pedro Tomaz de Oliveira Neto
Em 29 de abril de 1991, o Brasil amanhecia chocado com a notícia de um trágico acidente de carro ocorrido no sudoeste do estado do Paraná. Morria ali um dos grandes expoentes da Música Popular Brasileira (MPB), o cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que, estaria completando, nesta semana (precisamente, em 22 de setembro), 79 anos de idade.
Filho de uma lenda chamada Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, Gonzaguinha era um apaixonado pelo futebol. Torcia para o Vasco da Gama e tinha manifestas simpatias pelo Cruzeiro de Belo Horizonte, cidade onde morava desde o início dos anos 1980, por ocasião do seu terceiro casamento. Cultivava várias amizades com os craques da bola de sua época, como Reinaldo e os saudosos Sócrates e Roberto Dinamite. Sempre que sua agenda permitia, Gonzaguinha ia aos estádios para prestigiar grandes jogos do futebol brasileiro. Além de torcedor, era um peladeiro e gostava de participar com outros artistas de partidas beneficentes ou em prol de causas políticas, integrando o famoso Trem da Alegria, time criado em 1975, por iniciativa do então ex-jogador Afonsinho, reunindo nos gramados jogadores de futebol sem contrato e grandes nomes da MPB.
Luiz Gonzaga Jr. levou para suas composições essa intimidade que tinha com o futebol, mostrando que dentro das quatro linhas do campo de jogo, junto com a bola, rolava uma síntese da vida no mundo lá fora. Vítima contumaz da tesoura afiada da censura do regime militar instalado em 1964, o compositor se valia de metáforas alusivas ao futebol para driblar as proibições e os cortes impostos às letras de suas músicas. É o caso de “Arquibaldos e Geraldinos” (1974), com a qual denunciava os mecanismos de restrição das liberdades, situação que deveria ser enfrentada com inteligência e cautela, principalmente quando se estava no “campo do adversário”.
Já em “E Por Falar no Rei Pelé…” (1978), Gonzaguinha exaltava a força do povo brasileiro, que considerava um verdadeiro craque ao encarar no dia a dia a marcação dos homens de cima, tornando a vida uma “pedreira” ou uma “rinha sem gol”. Por sua vez, em “Se Meu Time Não Fosse Campeão” (1979), mostrava como o futebol pode ser uma válvula de escape para o trabalhador esquecer, ainda que temporariamente, as dificuldades financeiras e os problemas pessoais e como um gol tem o dom de encobrir o cansaço dessa luta diária que é a vida.
Infelizmente, Gonzaguinha partiu muito cedo, aos 45 anos de idade. Nos deixou quando vivia a plenitude de sua produção artística e intelectual, prometendo muito mais além da riquíssima discografia que acumulava desde o início da década de 1970. Uma obra recheada de canções marcadas pela beleza da melodia e pela força poética de suas letras, seja para exaltar a vida, o amor e a luta dos mais humildes em busca da alegria de viver, seja para dissecar, em versos espirituosos, o cotidiano e as condições sociais e políticas do seu tempo e, por que não dizer?, do nosso tempo, num merecido reconhecimento da atualidade de seu repertório musical. Salve, Gonzaguinha, o compositor da vida, do amor e do futebol!
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