por Marcelo Mendez
Houve uma noite em 1986…
No Morumbi lotado, o Palmeiras martelava e amassava o Corinthians.
Carlos, o goleiro, pegava bolas e mais bolas em defesas espetaculares e as coisas não iam bem. Na antiga numerada inferior onde ficavam nos todos misturados, as esperanças iam ruindo até que chegamos ao ápice da coisa, aos 42 minutos do segundo tempo. Meu pai, puto com tudo, virou e me falou.
– Chega, vamos embora!
– O quê? Tá doido, Pai?? Ainda não acabou, não!!
– Vai acontecer o que vem acontecendo por esses 10 anos. Vamos…
Nesse momento, um corintiano ao lado que acompanhava a cena se meteu na história:
– Menino… Ouve seu Pai, vai ficar pra passar mais raiva? Vai assistir nossa festa?
– Marcelo… vamos!
– Espera, Pai…
– Cê vai ficar aí? Fica, eu tô indo!
Então vai, Pai! Vá pra porra! O senhor é palmeirense porra nenhuma! Vai embora, eu me viro!
Após a gente quebrar o pau, o Velho virou as costas e foi indo embora. Eu tinha 16 anos de idade em 1986. Na ocasião, num tinha uma moeda no bolso e quando meu pai começou a ir embora, eu nem pensei em nada. O corintiano do meu lado se meteu de novo:
– Garoto, melhor você ir embora, hein? Ah lá… faz como seu Pai que aqui o Coringão já levou…
Nesse momento, Jorginho se encaminhou para bater uma falta. Bola na área, Vagner Bacharel cabeceia, o goleiro Carlos espalma e a bola acha a barriga, as pernas e tudo de Mirandinha, que a empurra como dá para o fundo das redes.
GOOOOOOOOOOOLLLLLL!!!!!
Eu já gritei vários gols na vida. Mas eu duvido que algum deles tenha tido a força que teve aquele berro na cara do corintiano desenxabido ali na minha frente. Eu o peguei pela camisa e gritava… “Golllllllll”. Meu pai que estava indo embora voltou e quando vi estava meio que me abraçando, meio que me tirando em cima do corintiano, a quem eu agarrava pelo colarinho:
– Vai embora o caralho!!!
Passou todo esse tempo.
Eu devo admitir que não sou mais o mesmo torcedor que fui aos 16 anos. Tenho quase 50, sou Jornalista há 27 e cubro futebol há 22 anos. Evidentemente, muito daquela chama pelo time que se torce não arde mais com o mesmo fogo intenso da paixão. Mas eu sei o que é sentir isso.
Por conta de saber de como as coisas funcionam, hoje não vou vir aqui pra falar do esquema tático, de como jogou o Palmeiras, de como não jogou o Corinthians, isso não importa para o torcedor que venceu por 4×0, muito menos para o que perdeu por 4×0. Hoje é dia de deixar o torcedor tirar a sua onda e que cada um viva esse derbi como quiser. O futebol precisa disso:
Que o torcedor seja pleno na sua conversa de botequim.
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