por Serginho 5Bocas
Gol sem dúvida é o grande momento do futebol e como todos sabem, bola na trave não altera o placar. Descontado os clichês, a coisa mais importante do futebol merecia uma homenagem, já que por ele, e quase só por ele, vamos aos estádios e assistimos aos jogos na tv, depois, muito depois, vem todo o resto.
Quase um orgasmo para uns exagerados, alegria da galera para outros mais animados, seja feio ou bonito, ele é o protagonista, então vamos ao que interessa e sem pressa…
Dizem que o gol é libertador, como foi para o bambino d´ouro Paolo Rossi ao fazer o primeiro gol da vitória histórica da Itália por 3×2 frente ao Brasil, no jogo épico conhecido mundialmente como a “Tragédia de Sarriá”, abrindo as porteiras de quem não marcava há quatro jogos daquela Copa e há quase dois anos de carreira por conta de uma punição da justiça desportiva. Dali pra frente, mais dois contra o Brasil, dois na Polônia e um na final contra a Alemanha, e pronto, livre e solto, nascia mais uma lenda dos grandes artilheiros.
Um gol no estádio faz estranhos na arquibancada se abraçarem e brincarem de pirâmide humana feito criança. Gol é gol, mas não podemos esquecer que hoje obrigatoriamente tem que ter coreografia. Se fizer três no domingo, tem direito à música e o escambau, mas inventar nessa hora não é coisa nova, como veremos a seguir:
O Rei Pelé imortalizou o soco no ar a partir de um jogo contra o Juventus na Rua Javari, quando a torcida local o hostilizava e ele. A fim de dar uma resposta à altura, fez gol e deu vários socos no ar, xingando palavrões e imortalizando sem querer aquela que seria sua marca registrada e indelével.
Na Copa de 70, Tostão que já estava de saída, pois Roberto fazia sombra à beira do campo, resolveu bagunçar a zaga da Inglaterra, com direito a caneta em Bobby Moore e cruzar no peito do Rei que majestosamente, passou para Jair dar números ao incômodo 0x0 contra os inventores do futebol e atuais campeões do mundo da época. Gol de excelência da maior das maiores seleções.
Reza a lenda que naquele dia, um menino inglês ao ver a qualidade desconhecida e impressionante daquela seleção brasileira, ficou tão encantado com aquele futebol de sonhos, que disse se sentir como se estivesse dentro de um carro de James Bond, no momento em que apertamos o botão de ejetar e se perde o fôlego como num voo sem escalas, não é mesmo Nick Hornby?
Caio e André Catimba davam cambalhotas acrobáticas comemorando seus gols;
Lela corria balançando a cabeça e a cabeleira dando língua, uma figuraça;
Careca fez gol na final e se jogou para trás, caindo de costas no gramado;
Neto fez de bicicleta e gritou para todos que era f…;
Roger Milla dançou uma lambada africana e deu voltinhas na bandeirinha depois de um gol que acabou com a empáfia de Higuita da Colômbia na Copa de 90;
Bebeto na companhia de Romário e Mazinho fez o gol nana neném (ou nana Mattheus) na Copa de 94, homenageando o filho que acabara de nascer;
Rondineli fez o gol do título carioca de 1978, que virou gol da raça e ele nem sabia que era o inicio de uma era fantástica.
Ronaldo Fenômeno fez dois na final de 2002 e espantou pra bem longe a fama de amarelão que ele iria carregar se perdesse outra Copa do Mundo, já que havia deixado passar em branco a de 1998 diante da França.
Rivaldo não deixou barato e fez gol de sonhos, ao dar uma bicicleta espetacular no fim do jogo, levantando os torcedores do Barcelona, o banco de reservas a até a torcida adversária, um primor.
Junior, o maestro, fez o gol da alegria aos 38 anos, saltando feito garoto e comandando a molecada rubro-negra na final do Brasileiro de 1992;
Almir Pernambuquinho fez o gol da raça ao arrastar seu rosto na lama para fazer um gol que entrou para a história.
Washington, do Fluminense, fez gol de pelada de rua contra o Vasco. Foram tantas fintas e quase chutes que quase matou a torcida do coração até a estocada final com bola na rede.
Assis, seu companheiro de clube, foi o maior carrasco que se tem noticia ao fazer gol em duas finais de Carioca seguidas contra o Fla. No primeiro, em 83, contou com a sorte de pegar mal na bola e enganar Raul, no segundo foi a consagração com uma cabeçada certeira frente ao monstro Fillol, ali nascia a lenda.
Zico fez muitos gols, mas dois deles foram com muita dor, quando entrou febril e cheio de furúnculos contra o Boca Juniors no Maracanã em 1981 e derrotou a gripe, a própria dor, o goleiro Gatti e Diego Maradona de uma só vez, valorizando o ingresso da massa e a despedida do amigo Carpegiani.
Roberto Dinamite fez o gol de enciclopédia que todo menino sonha em fazer um dia, dando um lençol no beque e batendo de primeira sem deixar cair no chão, no finalzinho da partida, uma explosão de alegria. Osmar está procurando o Bob até hoje…
Falcão fez o gol de empate que o mundo todo torceu para entrar e comemorou de um jeito tão contagiante que até os defuntos em suas tumba, levantaram e aplaudiram de pé. Eu chorei no dia e me arrepio até hoje quando vejo aquele 2×2, coisa de cinema.
Depois desse cardápio de gols, podemos dizer que temos gol pra tudo que é gosto.
Hoje se comemora fazendo coraçãozinho, apontando pistola pra torcida, metralhando a tudo e a todos, dançando funk ou sertanejo universitário, mas nada supera o gol.
Tem gol fácil e gol difícil.
Tem gol feio e gol bonito.
Tem de bico, tem de sola, de barriga e de peito.
Tem gol que é decisivo e o que não vale nada, tem de chapa, de trivela, calcanhar e de cabeça. Gol é gol e não há o que reclamar e como dizia a fera do gol: três vezes artilheiro do Brasileiro, o rei Dadá, o peito de aço, o cara que parava no ar feito beija-flor e helicóptero:
– Não existe gol feio, feio é não fazer gol!
Tem gol de todo jeito que se possa imaginar e por isso eu teimo em afirmar, nada é mais emocionante do que ver a rede balançar, pois o gol é ou não é o grande momento do futebol?
E tem gente famosa que diz que é só um detalhe…
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